TESTEMUNHA
O meu corpo é apenas uma testemunha
Da minha tamanha ausência
Que perambula e procura por ruas escuras por mim
Minha vida é somente um presente descrente
Em que pende uma alma perdida
Enquanto grita e se agita aflita a fim de um fim
O meu canto é um pranto, um gemido doído
Um ruído que ecoa errante
E que à tôa destoa distante na escuridão
Minha voz, um revólver sem bala
Não diz e nem fala o que tanto queria
Mas se cala na sala vazia do meu coração
Sem sentido é seguir perseguindo um sentido
E ter sido ver vir que viver vai-se em vão
A cidade, a saudade, a verdade, a vaidade
Ao que invade-me, leve me leva
E a lava que lava alivia o meu vácuo vulcão
Os teus lábios nos meus, fado afagos ateus
Nosso fogo, fulgor, nossa fuga
Nossas línguas, lambidas, saliva, cilada e paixão
Sem sentido é seguir no sentido contrário
Contrassenso antihorário, sudário no chão
Eu na contramão, a minha mão contra o meu peito
Paradoxo perfeito, contradição
Quando nua a lua flutua no céu
Sobre a tua insana insônia
Uma sanha me acena e eu sonho a cena final
Mas se surge e se insurge a em ardor dor que urge
E alarde arde o tarde p'ra tudo
Cá me acudo acuado, desnudo e, ao teu lado, mortal
Gugu Keller
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