quarta-feira, 12 de junho de 2013

3,20

Os manifestantes que, obviamente cobertos de razão, têm organizado protestos contra o absurdo aumento da tarifa dos transportes de R$3,00 para R$3,20 aqui em São Paulo, acabam se perdendo na medida em que, como aconteceu na noite de ontem, usam de violência. Coisas assim têm de ser feitas com inteligência e criatividade. Que tal, por exemplo, se as pessoas se articulassem e, doravante, sempre que tomassem um ônibus deixassem para pagar apenas quando estivessem próximas do seu destino e dissessem para o cobrador que têm apenas os três reais, que não podem, portanto, pagar os vinte centavos? Será que o cobrador chamaria a polícia? Quem fizesse isso seria preso? E se dezenas ou centenas de milhares de pessoas fizessem a mesma coisa simultaneamente? Todos os cobradores de todos os ônibus chamariam a polícia? E eles, os ônibus, ficariam todos eles parados até que ela chegasse a cada um? Podem imaginar o tumulto no trânsito, ou a ira de quem pagou os R$3,20? E se a polícia vier e resolver prender que fez a viagem e diz ter apenas R$3,00 para pagar a tarifa, o que aconteceria? Será que os delegados cidade afora mandariam prender todos em flagrante? Mas onde prender centenas de milhares de pessoas, se as delegacias e presídios já estão como estão? Abrir inquéritos? Novos processos para uma justiça abarrotada? Além disso, e se a polícia prender alguém num determinado ônibus e, logo depois, outras pessoas, no mesmo ônibus, fizerem o mesmo? Iria começar tudo de novo em cada ônibus? Não é preciso pensar muito para observarmos que, com um pouco de criatividade e inteligência, desde que, é claro, haja também um mínimo de articulação, organização, e, sobretudo, união, entre nós, cidadãos tão fartos desses tantos descalábrios governamentais, poderíamos, sem praticar qualquer ato de vandalismo ou violência, fazer com que esse tipo de coisa rapidamente se revertesse, já que seria por óbvio impraticável, numa situação assim, que a reivindicação, absolutamente justa, insista-se, sobretudo em se considerando a qualidade do serviço prestado, não fosse de pronto revista pelas autoridades, que, do contrário, decerto sofreriam um desgaste sem precedentes.
 
Gugu Keller

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