domingo, 27 de dezembro de 2009

Minhas músicas - "Greve Geral"

GREVE GERAL

São seis horas da manhã na Central do Brasil
São seis horas por manhã e o prato sempre vazio

Na fala do papa deus não quer o aborto
Mas Nietzsche é do palpite de que deus está morto
Zaratustra, a cara já não assusta ninguém
Tortura nunca mais, sempre coca-cola
Vagas que se abrem na indústria da esmola
Saia da vida, entre na história e tudo bem

Assassino confesso, congresso e prisão
A ordem, o progresso, o cortiço e o lixão

Mas a história muitas vezes inverte os fatos
Jesus pode ter crucificado Pilatos
Lave as mãos com o sangue que vier da TV
Cultura patchwork de leitura fast food
Pátria third world, presidente Robin Hood
Consumismo, neo-liberalismo e poder

O normal é ser anormal
O legal é ser ilegal
A toda essa hipocrisia declare guerra total
Desigualdade imoral
Civilidade fatal
Contra essa demagogia convoque greve geral

Sexo com preservativo o papa já proibiu
Inconsciente coletivo e sociedade civil

Mas papa que é papa só papa papisa
O número dezoito estampado na camisa
Nostradamus, o fim seria menos bestial
A pátria de chuteiras com o pé no tapetão
Clubes decadentes da primeira divisão
Senhor Godot, o tempo acabou, então é tchau

Se alguém houvesse
Se alguém ouvisse
Se alguém soubesse
Se alguém sentisse

Na linha vermelha traficantes fazem blitz
Bacen e Fort Knox, Febem e Auschwitz
Hoje e sempre o vazio onipresente é o que se faz
Mas dízimo promete salvação e muita grana
Hare hare krishna, hare hare rama
Pai nosso, qual é o céu em que estás?

O normal é ser ilegal
E o legal é ser marginal
A toda essa demagogia declare amor afinal
Desigualdade fatal
Civilidade sem qual
Contra a tua hipocrisia convoque greve geral

Toalha

Foi outro dia desses, rememorando-a com alguém a quem eu a tinha contado, que tive a idéia de postar esta história aqui no blog...
Aconteceu já faz um tempinho. Estou no apartamento onde moro há pouco mais do um ano, e essa situação se deu no outro, onde eu morava anteriormente. E é tudo verdade, tá? Não vão pensar que estou inventando...!
É que, naquele prédio onde eu vivia então, as janelas dos banheiros dos apartamentos que ficavam lado a lado no mesmo andar eram muito próximas umas das outras, de modo que, se alguém gritasse ou falasse alto no banheiro do outro apartamento do meu andar, onde morava uma moça, dava para ouvir do banheiro do meu. Pois bem... Um belo dia, estou eu lá no meu banheiro sossegado, quando ouço a vizinha gritar, provavelmente para uma empregada ou diarista...
- Ô, fulana! Pega aí pra mim a toalha de xoxota!
Na hora pensei comigo... "Nossa! será que ouvi direito?" Apurei o ouvido e, como provavelmente a destinatária do pedido tampouco o tinha ouvido bem, veio em seguida em voz ainda mais alta...
- A toalha de xoxota!!!
Fiquei imóvel. Totalmente parado onde eu estava para ver se ainda vinha mais. E então cheguei a ouvir, ainda que agora com menos volume, ela explicando à pessoa que decerto afinal trouxera o solicitado objeto...
- Obrigada! Eu sempre deixo esta toalha pra xoxota! É que esqueci pendurada lá na área...!
E foi isso. Mas o engraçado mesmo era, depois do acontecido, quando eu me encontrava com ela na portaria do prédio ou no elevador, e ela me cumprimentava toda séria...! Eu ficava pensando... "Nossa! Imagina se ela sonha que eu ouvi aquilo..." Ich... E se ela um dia ler este post? Será que vai se lembrar do acontecido e saber que é sobre ela?

Gugu Keller

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Importância do Bom Velhinho

Sempre tendi a pensar que fosse uma coisa errada, absurda até, fazer com que as crianças acreditem em coisas como o Papai Noel. Afinal, conforme elas fossem crescendo e percebendo o quanto se trata de uma história não apenas irreal mas absolutamente cheia de despropósitos, tenderiam, acreditava eu, a perceber que simplesmente zombaram de sua inteligência. Sem grandes delongas, como, por exemplo, uma criança que começa a adquirir um pouco de razão pode entender que há tantas outras crianças morrendo de fome e de outras privações mundo afora, como tanto se vê na TV? Se Papai Noel existisse, bastaria que lhe pedissem pelo natal a necessária provisão, não é mesmo? Sim, o problema da fome estaria resolvido, afinal, certamente, pelo seu espírito tão repleto de bondade, o bom velhinho não lhes haveria de negar tal presente...! Era, enfim, por paradoxos racionais com este, que sempre cri que esse tipo de fábula constituisse algo nocivo para as mentes infantis.
Contudo, amigos, este post é para dizer que, sendo eu um brasileiro, radicalmente mudei de idéia. Sim. Hoje, tendo melhor pensado, acredito piamente que, ao contrário, tal tipo de costume é extremamente saudável para as nossas crianças! Explico...
É que neste nosso país, meus amigos, conforme vamos nos tornamos adultos, deparamo-nos com toda uma estrutura hipócrita e fantasiosa, de falácias e mais falácias, em que, para termos um mínimo de paz de espírito, e até de segurança em sentido próprio, somos obrigados, o tempo todo e cada vez mais, a fingir que acreditamos, como se fôssemos absolutamente estúpidos, ou, no mínimo, ingênuos como crianças em idade de um dígito! Então, por mais que no fundo saibamos que, tanto quanto o Papai Noel, é tudo uma grande mentira, acabamos por, sob pena de uma severa exclusão social, ter que aceitar o fingimento coletivo de que somos, por exemplo, uma democracia, um estado de direito, de que somos uma nação solidária, de que todos somos iguais perante a lei, de que as nossas instituições merecem nossos aplausos, de que o nosso congresso é o templo sagrado da vontade popular, de que temos uma constituição que é minimamente levada a sério, e por aí vai...
Portanto, amigos, que fique aqui registrada, e o faço com sincera humildade, a minha radical mudança de opinião... Ensinemos, sim, nossas crianças a acreditar em Papai Noel! Também, tanto quanto possível, em coelhos da páscoa, saci-pererê e o que mais houver...! Isso lhes fará certamente um enorme bem! Tornar-se-ão, decerto, adultos capazes de conviver bem, como nós tanto temos tão bem convivido, com todas essas mentiras, falácias e hipocrisias a um palmo de nossos narizes, sempre sabendo aceitá-las, acatá-las, muitas vezes até defendê-las, sem que isso, de modo algum, possa causar qualquer sentimento de contradição ou crise de consciência!
Feliz natal! Que o Papai Noel seja a todos abundantemente generoso!

Gugu Keller

domingo, 20 de dezembro de 2009

Visita ao Cemitério

Ele aproveitou a fria e cinzenta tarde de domingo para ir ao cemitério, localizado num dos limites da cidade que há dentro do seu pensamento, já longe do coração, o bairro mais central. Cruzou o portão de entrada e pôs-se a caminhar pelas floridas e arborizadas alamedas. Sons, só o do vento, o de um ou outro pássaro aqui ou ali, além do dos seus próprios passos.
Ei-lo diante do túmulo. Não chegou a ajoelhar-se ou fazer alguma oração. Não. Limitou-se a ficar ali olhando e refletindo...
Divagou no fato de que, como se via, as seis gavetas já estavam todas ocupadas... Na primeira, ou naquela com que se estreiou o jazigo, a mais baixa à direita, estava, morta já há 25 anos, quando ele tinha 19, aquela sua velha alegria, sua velha empolgação, que por muito tempo permitiu-lhe saber o que fazer de cada minuto de sua vida, livrando-o, então, assim, naqueles bons tempos, do absurdo do tédio que hoje tanto o sufoca. Na segunda, a mais baixa do lado esquerdo, jazia a sua também velha idéia de que a felicidade existia, morta e sepultada seis anos depois, quando ele ia por seus 25. Na terceira, a do meio da direita, falecida havia 14 anos, jazia sua esperança de econtrar alguém que soubesse amar como ele amava, ou como ao menos achava que amava, e ele não pôde deixar de se lembrar de como chovia na tarde daquele doloroso sepultamento... Na quarta gaveta, a do meio do lado esquerdo, lá estava, morta havia pouco mais de dez anos, a sua esperança no ser humano, que também atendia pelo nome de esperança em que a verdade pudesse enfim vencer a hipocrisia, uma morte, aliás, tão sofrida quanto estúpida...! Na penúltima gaveta, a mais alta da direita, descansava, tendo perecido pouco depois da finada anterior, a sua esperança de um mundo melhor, esta uma morte que ele assimilou com um pouco mais de conformismo, pois, quando aconteceu, parecia mesmo, havia já algum tempo, próxima e inevitável... E, enfim, na última gaveta, lá estava, desde o ano anterior, sepultada como as outras para sempre naquele túmulo, a sua razão para viver, para continuar tentando, para ainda insistir no ato já definitivamente insano de respirar...
Ele quase chorou. Mas não. Meio que já havia se acostumado a sofrer sem lágrimas. Ficou apenas afinal pensando, estando como estava o túmulo repleto, sobre onde haveriam de ser sepultados seu corpo e sua angústia, que tudo levava a crer que, não dali a muito, morreriam juntos, na chamada comoriência. Talvez, atinou, morrendo ambos mesmo juntos, corpo e angústia possam juntos ocupar uma só gaveta, o que, naquele seu jazigo familiar, demandaria afinal apenas uma exumação... Mas não. Talvez não faça sentido. Afinal, naquele mesmo cemitério há tantos túmulos ainda livres, tantas gavetas a esperar de braços abertos... E, ademais, naquela sua gigantesca cidade, a do seu pensamento, há ainda tantos outros tão vastos cemitérios...

Gugu Keller

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Suástica

Outro dia, lendo um artigo referente ao chamado neo-nazismo, deparei-me com uma interessante discussão acerca da proibição de qualquer veiculação da suástica, ou cruz gamada, o principal símbolo nazista enfim. De fato, entre nós, a lei 7716/89, em seu artigo 20, prevê como criminosa tal conduta, prescrevendo para ela uma pena de reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Aí, fiquei pensando, sabem? Não que eu seja neo-nazista ou simpatizante desse tipo de coisa, mas é que gosto de refletir sobre algumas incoerências que observo... E então pergunto... Quem matou mais em nome de sua causa absurda? A Alemanha nazista de Hitler ou a igreja católica na época da inquisição? Bem... Para quem tem o mínimo de informação, nem preciso dizer a resposta, não é mesmo? Ademais, apenas como mais um elemento, quem foi mais cruel em seu "modus operandi"? Hum? Sei que pode até parecer uma comparação mórbida, mas tendo a pensar que uma câmara de gás em Auschwitz é um pouco menos doloroso do que ser queimado numa fogueira até a morte, não? E aí, amigos, fico sem entender... Por que será que a divulgação, exibição, qualquer veiculação afinal, da cruz católica, não constitui também um crime grave em nossa legislação? Seria o minimamente coerente, não acham?

Gugu Keller

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Minhas músicas - "Guria Gremista"

Apaixonado que sou pela cultura gaúcha, sempre quis compor algo que a enaltecesse e que tivesse o seu estilo musical, incorporando termos típicos e tal...
Um belo dia, muito empolgado, comecei a divagar na idéia e, para minha grande alegria, veio-me à mente uma melodia que pareceu-me ideal para o que eu queria, restando então agora trabalhar numa letra com as expressões "gauchescas" que buscava...
Algo que sempre me chamou a atenção nos costumes que observo no Rio Grande do Sul é o fato de que lá, muito mais do que aqui em São Paulo, as garotas se interessam por futebol, vindo daí, então, a idéia de "Guria Gremista", já que, dos times gaúchos, o Grêmio é aquele com que mais simpatizo...!
Em alguns dias ficou pronta e, modéstia a parte, adorei o resultado! É uma canção que, quer tocando meu violão, quer "à capela" caminhando pela rua, eu adoro cantar...! Sem dúvida, neste meu lado de compositor, tornou-se um dos meus melhores trabalhos...

GURIA GREMISTA

Quando o vento sopra gelado nos pampas do meu coração
É teu, minha prenda, o abraço apertado, és cuia e calor, chimarrão
Quando a névoa aponta ao largo e aporta no peito a dor
É doce em teus lábios o mate amargo que amorna o minuano de amor

Guria, minha estrela guia
Meu sol de um dia azul
Gaúcha de Santa Maria
Gaudéria cria do sul

Se eu da invernada vou na cavalgada que desce o Cassino ao Chuí
À noite pós pilcha, bombacha, o meu corpo acha o achego em ti
Teus gestos, jeitos, teus peitos perfeitos, conceitos de Serra Geral
Guaíba vermelho na tarde que arde num porto-alegrense postal

Gauchinha linda, tão para mim bem-vinda
És o meu amor meridional
Juntos de mãos dadas vamos pela estrada
Da querência amada sem igual

Gauchinha amiga, guapa tri-querida
Dá-me a pista e vem me cabrestear
Deixa eu conquistar teu coração gremista
Matear sulista e te amar

Gugu Keller

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Planos para depois da morte...

Você, que me lê agora, tem planos para depois da sua morte? Sim, isso mesmo! Planos para depois da sua morte, para depois que você se for, partir desta vida, tem algum? Ahh... Acha absurda a pergunta? Pois olhe... Parei para pensar a respeito e percebi que eu tinha vários...! Sim, é verdade! Afinal, todos os meus planos pelos quais eu não fazia nada só podiam ser para depois que eu morrer, não é mesmo? É! Soa pesado mas é a verdade, ou não? Estou, então, tentando mudar...! Sim! Doravante por tudo o que quero eu luto! Eu tento, eu busco, eu procuro, eu me entrego! Já muito para mim foi o contrário, sabe? É, foi! Quase sem perceber, eu ia deixando muitos desejos para o jamais... Mas não, agora nunca mais! Querer sem tentar nunca mais! Posso até não conseguir mas morro tentando! E, olha, sinto-me muito bem com isso, viu? É muito, muito melhor! Pense nisso você também! Ou vai deixar para depois da sua morte? Ou, pior ainda, continuar cometendo esse suicídio passivo de nem tentar?

Gugu Keller

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Epitáfio

Eu sou feito de escrever. Vivo para escrever e escrevo para viver. Escrevo, escrevo, escrevo, escrevo, escrevo. Sou todo letras, sílabas, palavras. Idéias, versos, diálogos, conceitos. Enredos. Além, é claro, do seu contraponto, ler, é praticamente só o que me interessa. Escrevo acordado, escrevo dormindo, escrevo andando, escrevo parado. Escrevo de cabeça e depois digito. Ou me solto a digitar para ter depois na cabeça. Por escrito, experimento, arrisco, ouso. Tento. Nunca desisto. Preciso, devo, necessito. Sim, meio que vivo por escrito. Livros, peças, poesias, canções. Palavras. Ah, como são mágicas as palavras! Eu como palavras, bebo palavras, digiro-as e delas me faço. Eu sou e suo palavras. Água, sal e palavras. Lágrimas. Palavras, olhos, ouvidos, mentes. Expressão. Palavras podem tudo. Tudo se pode em palavras. Tudo se perde em palavras. E eu por elas tudo posso, tudo perco. Tudo enfim se vai de mim.
Mas façam-me, amigos, um favor... Por mais que eu viva, e por mais que enquanto vivo escreva, façam constar no meu túmulo que não escrevi o bastante, ou, ao menos, não tanto quanto gostaria...
Ah, amigos, se eu pudesse escrever para sempre...

Gugu Keller

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Minhas músicas - "A Prece"

Como é bom vivermos no maior país católico do mundo! Afinal, como tal, somos um povo unido, solidário, honesto, mutuamente respeitoso, um povo que sabe compartilhar entre si com total equanimidade todas as benesses com que a natureza tão gentilmente nos presenteia, uma verdadeira nação de irmãos que, como tanto pregou o fundador de tudo, amam-se indiscriminadamente uns aos outros! E, sobretudo, ainda o citando, em total respeito àquela sua advertência em que ele disse "ai de vós, hipócritas!", somos, para decerto seu orgulho se nos estiver olhando, uma pátria sem lugar para qualquer tipo de hipocrisia humana! Como é bom!

A PRECE

Pai nosso que estás no céu
Dá uma olhada aqui pra esta terra
Veio a nós um reino não teu
Pelo pão vivemos em guerra
Os Judas estão por cima
Madalenas por toda parte
Herodes foi pra Suiça
Pilatos deixou saudade
Tende piedade de nós
Tende piedade de nós

Pai nosso que estás aí
Santificado é o vosso nome
Perdoa as nossas dívidas
Ou nós vamos morrer de fome
Roma cruzou o Atlântico
Tibério falando inglês
Barrabás foi inocentado
E já é candidato outra vez
Tende piedade de nós
Atende, que a maldade é atroz

E sangue a lágrima cai, cruz, versículo e o pranto nos tem
Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém

Pai
Afasta de mim este cálice
Pai
Calar, calabouço, catálise
Nos templos e altares sagrados
Onde a prece permeia a dor
Felizes os convidados
Para a ceia do senhor
Eis o mistério da fé
Eis o Brasil como é

Mas dos hipócritas ai, que Jesus Cristo voltando já vem
Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém

Gugu Keller

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Minhas músicas - "O Xote da Xoxota Choca"

Eu queria tentar fazer algo que tivesse um ritmo nordestino extremamente dançante. Creio que, com "O Xote da Xoxota Choca", se não o consegui, ao menos cheguei perto. Trata-se de um espécie de "nonsense" malicioso, que, pelo andamento rápido aliado ao jogo de palavras, é relativamente difícil de se cantar, aquela coisa meio "de dar um nó na língua", sabem? Eu mesmo, quando a canto, ainda dou umas tropeçadas. Mas é justamente daí que vem o seu charme. E gostei muito do resultado. Mas o mais legal é, quando eu a mostro para alguém, ouvir dizerem... "Nossa, Gugu! Mas foi você que escreveu isso???" Sim, fui! Adoro fazer sempre coisas diferentes.

O XOTE DA XOXOTA CHOCA

A xoxota choca encharcava a chuca cum xixi no chão
E um muxoxo chato cochichava o Chico cum xaxim na mão
A garota brota via o Xou da Xuxa na TV sem som
E, xuxando pique, chacoalhava chique o xote no salão

É o xote, é o xote
É o xote da xoxota choca
É o xaxado da pixoxa, xeca
Perereca treca que sacode e soca
É o xote, é o xote, é o xote
É o xote da xoxota choca
É o maxixe da xereca, xana
Siririca insana que cutuca a toca

Diz que na Paraíba, que pra lá pra riba, que no Piauí
Diz que na Bahia até raiar o dia ninguém vai dormir
E, se toca o xote da xoxota choca, diz que as mulé
Dança tudo doida pra chocar o ovo e pôr ele de pé

É o xote, é o xote
É o xote da xoxota choca
É o fuxico da pixoxa, xeca
E, se periga a prega, água de coco e coca
É o xote, é o xote, é o xote
É o xote da xoxota choca
É o futrico da xereca, xana
E em briga de sicrana, quem retruca troca

Gugu Keller

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Minhas músicas - "Suicídio Pop Blues"

Creio que jamais pensei seriamente em suicídio, mas, sim, muitas vezes, em fantasias, ao menos, ainda que de longe, considerei a hipótese. E, se querem saber, e talvez isso seja advocacia em causa própria, já que sei que muitos vêem a idéia como absurda, a verdade é que acredito que, nas devidas proporções, tal tipo de, digamos, divagação, é algo bastante sadio. Sim, isso mesmo! Sabem aquela coisa de, mesmo que jamais sequer cheguemos perto de a usar, termos, em última instância, uma saída de emergência? Isso acalma, desanuvia, encoraja, como não? Será que alguém discordará sob este aspecto? Não há, afinal, situações tão terríveis nesta vida que a imagem de uma cápsula de cianureto no bolso nos ajuda, sim, e muito, a ir adiante? Sim, comigo é assim. Sempre foi assim. Levando a coisa na medida certa, faz-me bem. Seria bem pior, imagino, ver-me numa situação tenebrosa, desesperadora, de que não houvesse nenhuma escapatória concebível, por mais insana que eventualmente fosse.

SUICÍDIO POP BLUES

Desilusão
Desespero, dilema, derrota, decepção
Depressão
Sofrimento, segredo, saudade, separação
Solidão
Já não sinto, não minto, não finjo, não sei, já não sou

Noite de frio
Outra dose, conhaque, cigarro, vertigem, vazio
Meio-fio
Outra dose, conhaque, prozac, parnate, plasil
Rivotril
Outra dose e eu não sinto, não minto, já sei, já me vou

Pular do alto do meu prédio
Deixar o tédio enfim para trás
Nunca mais
Dormir para sempre sob o chão

Dói, isso dói
Martiriza, machuca, tritura, consome, corrói
Como dói
Desbarranca, desmancha, desaba, deságua, destrói
Dor que mói
Já não sinto, perdi, labirinto, já fui, já não sou

Gugu Keller

sábado, 21 de novembro de 2009

Bicicleta

No parque pedala pacato o pequeno poeta
No parque pedala pacato o poeta em paz
O pensamento lhe passa bem perto
Passeando seus pés nos pedais
Transpassa o portão o poeta e a palavra lhe apraz

A ponta da pena o poeta passeia pensando
Passeia a ponta da pena na paz do papel
Possui o poeta a palavra
E pensa profundo e passa
Penetra o poeta e pisa no piso do céu

Passeia o poeta pensando em sua pequena
Aperta o passo o poeta pensando em paixão
Procura perdido o poeta
A porta da sua prisão
Aperta a pequena em seu peito, o poeta e seu pão

Pensou o poeta a palavra e a paz lhe pairou
Pairava a paz no poeta ao piar dos pardais
Só restou a poesia e os pedais
E a dor do poeta parou
No parque pedala pacato o poeta em paz

Gugu Keller

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Palíndromos

Adoro palíndromos! Adoro, adoro, adoro! Tenho o projeto e o sonho de um dia tentar trabalhar num... Entre nós, sem dúvida, o mais famoso é "Socorram-me! Subi no ônibus em Marrocos!"
Fantástico, eletrizante, arrepiante, é um de autoria de Chico Buarque... "Até Reagan sibarita atira bisnaga ereta!" Demais, não? Simplesmente espetacular!
Mas certa vez eu havia lido que esse acima, o do Chico, seria o maior já feito na lígua portuguesa, ao menos no Brasil... Não é verdade! Vejam só este... "Luza Rocelina, a namorada do Manuel Salas, leu na moda da romana: anil é cor azul!"
Infelizmente não sei quem é o autor dessa obra de gênio. Mais infelizmente ainda, não sou eu.
Outros palíndromos interessantes que conheço são... "Anotaram a data da maratona.", "A diva em Argel alegra-me a vida!", "A mala nada na lama!", "A torre da derrota!", "O galo ama o lago!", "O lobo ama o bolo!" e o maravilhoso "O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro!"
Lindo, lindo, lindo! Parabéns aos seus autores! Não sei quem são mas têm em mim um fã!

Ah! Alguém aí não sabe o que é um palíndromo? Então é só ler cada uma dessas frases de trás para frente...!

Gugu Keller

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Minhas músicas - "A Nível De"

Um dia pensei... Já que "a nível de" é a expressão que mais abomino, por que não compor uma canção com esse título para satirizar o linguajar obtuso que ela tão bem simboliza?

A NÍVEL DE

Eu enquanto homem
A nível de debate
Tenho coisas mil a colocar

Ao nível das idéias
Num papo mais cabeça
Proponho opções para reciclar

Enquanto ser humano
Pensando multimídia
Te dou no coffee break um feed-back

Ao nível da pessoa
Na coisa da poesia
Brasil enquanto pátria, big mac

Eu sou mais eu
Você mais você
A nível de tudo
Nada a ver

Eu enquanto ente
Vivente em sociedade
Me vejo inserido em circo e pão

A nível do presente
A vida enquanto fato
É biofilosofia de exceção

Eu sou mais eu
Você mais você
A nível de tudo
Répondez s´il vouz plait

Nós enquanto espécie
Globalizadamente
Temos muito ainda a perceber

Beba coca-cola
Mas use camisinha
Antes um direito que um dever

Eu sou mais eu
Você mais você
A nível de mundo
Tudo a ver

Gugu Keller

terça-feira, 10 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Versinho de Verão

Adorei isso...

Versinho de Verão (Sheila Maseh)

"E como sem dores se haverão os tantos amores
que tanto entre tantas flores se verão no verão?"


Postado p/ Gugu Keller

Minhas músicas - "Lágrimas"

Das minhas músicas esta é provavelmente a que até hoje deu mais certo. É que, com ela, na voz de uma grande cantora amiga minha, ganhei, no ano de 93, um festival de música muito bacana. Mesmo assim, num arroubo que tive anos depois, fiz algumas pequenas alterações na letra, e gosto mais dela agora...

LÁGRIMAS

Estas lágrimas que correm dos meus olhos
São transgrade o gozo inglório meu vulcão
Tempestades que me escolhem nos meus olhos
Rio que arde, lava alarde, erupção
Neste pranto canto agudo eu me desnudo
Céu sisudo alheio a tudo a vir-me sal
Lassas lástimas que correm dos meus olhos
Foz, degelo, voz apelo, cio sem qual

Estas lágrimas desatam tão amargas
Mágoas mal amalgamadas em mim
Caos, cascata, catarata que deságua
Madrugada mar de nada, fio sem fim
O suor que lacrimeja pelos poros
E evapora-se tristeza ao sol
Largo lágrimas ladeira à beira abrolhos
Pós espólio cachoeira, queda em prol

Lágrimas que correm
Lágrimas de amor
Lavam os meus olhos, que se consomem
Lavam a minha dor

Mas outro dia eu me escorava no escuro
E encarava amaro o muro, tudo bem
Sei que é só cravar sementes, chão seguro
Que escancara-se o futuro e tudo vem
E se entrementes verso excesso eu vergo e choro
Quente o colo solo alago ao lado além
Turvos magmas que purgam os meus olhos
Pulso d'óleo a que me curvo escravo, amém

Estas lágrimas que correm dos meus olhos
Secam e, então, eu, sóbrio, digo sim
Peito aberto em euforia, sódio e cloro
Poesia que me enxerto em fé afim
Eis que o sonho faz a flor nascer do insano
Eis ufano o esplendor no meu jardim
Destas lágrimas que morrem são meus olhos
São os olhos do humano vão que eu vim

Lágrimas que correm
Lágrimas de amor
Lavam os meus olhos, que se recolhem
Lavam a minha dor
Levam a minha dor

Gugu Keller

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Minhas músicas - "Todo Dia Suicídio"

Masoquistas que somos, ao invés de fazê-lo de vez, muitos de nós optamos por nos suicidar um pouco a cada dia. O irônico é que, no mais das vezes, levamos nisso tanto tempo que, antes que terminemos, vem a morte e nos leva...

TODO DIA SUICÍDIO

Às vezes eu caminho mas não saio do lugar
Às vezes eu me perco sem nem mesmo caminhar
Às vezes solidão na multidão
Às vezes lua cheia e mãos vazias
Às vezes eu começo e quase nunca eu chego ao fim
Às vezes eu tropeço e quase sempre eu digo sim
Às vezes solidão na comunhão
Às vezes vento frio e tempestade

Um tiro, a morte, o gozo, enfim o dia
Um salto no vazio, espasmo e breu
Um sono eterno, inverno em vigília
Nada nem ninguém, silêncio e eu

Às vezes toda a vida me parece ilusão
Às vezes eu me iludo e a vida toda vai ao chão
Às vezes nunca mais recomeçar
Às vezes todo dia suicídio

Um grito, a sorte, o mar e enfim o porto
Um salto no jamais e em paz a cruz
Na bala a caminho do meu corpo
O brilho é a derradeira luz

Às vezes toda a vida se extravia em seu pulsar
Às vezes todavia a vida pulsa sem parar
Às vezes quase nunca eu tentaria
Às vezes todo dia suicídio

Um tiro e enfim a vida se esvazia
Um salto, o céu, o chão, atalho, adeus
Um sono eterno ao sol de um novo dia
Nada nem ninguém, silêncio e eu

Gugu Keller

domingo, 25 de outubro de 2009

Minhas músicas - "Desabafo"

Às vezes fico pensando... O ato de desabafar, sempre tão clara e desesperadamente necessário, é, de um ponto de vista puramente racional, tão desprovido de sentido... Sim, pois, afinal, de que nos serve, sempre a pensá-lo racionalmente apenas, que outrem tome conhecimento de nossa dor? Em que isso a diminui? É que, tendo a assim crer, precisamos nos apegar à consciente ilusão de que não somos enfim tão sós. Mas definitivamente somos. E esta nossa gigantesca solidão vem do decerto inequívoco fato de que cada um de nós está irremediavelmente fadado a ser o único a sentir e pensar em seu próprio universo psíquico. Ou não é assim? De todo modo, desesperados, desabafemos...

DESABAFO

Eu quero dar tiros no escuro
Pois eu não acredito em acaso
Dar de dor gritos arte transmuro
De um preso sem prazo
Desejo de aparte e ar puro

Quero juntar e colar meus pedaços
Com fé e com esparadrapo
E afinal ver passar o passado
Sem medo eu a nado
Meus dedos aos teus atrelados

Eu quero poesia
Prazer, prosa e prozac
Eu quero pele, um par de peitos, pouso e pão

Eu quero dar murros no espelho
Pois eu não assimilo o destino
Jorrar fulo o meu sangue vermelho
Meu ulo canino
Meu pino, nariz no joelho

Quero beber toda a água da chuva
E toda a que dorme nos lagos
E ver a vida já não treva turva
Mas a erva e o trago
Na trégua em teus braços e curvas

Eu quero uma porta
Um porto, a ponte, um parto
Eu quero o preço da passagem, plus paixão

Eu quero dar giros no espaço
Pois eu não admito limites
E segurar os vampiros no laço
Entrar sem convite
Nos riscos no próximo passo

Quero estar todo desamarrado
Desamordaçado ao léu
Eu quero ser eu ao contrário
E, desnudo e sem céu
Ter-me todo e pra tudo ao teu lado

Eu quero uma prova
A pedra, o pó, a picada
Eu quero prece, um passe, pausa, pulso e pus

Pré pacto pá e palavra, apraz-me cada
Por paz pós pés no nada, a espada e a cruz

Gugu Keller

sábado, 24 de outubro de 2009

E

Estimados entrantes estimuladores...

Escrever evoca-me experimentar estilos especiais, embora eventualmente estranhos. Esforço-me entrementes em emocionar empregando estruturas excêntricas e esdrúxulas, esquálidas, esguias e esquizofrênicas, e, entretanto, esperta e estrategicamente excitantes. Egocêntricas eventualmente. Esmero-me em estreitar estradas enlameadas, emborcar entradas entrecortadas, explorar estrelas, espumas, estufas, escuras escunas. Escuto. Escorrego, esgueiro-me, espio e espiono. E escolho enfim expiações etéreas entre estrofes ecumêmicas e estribilhos efusivos, e espreito engates, engodos, egos engajados, esqueléticos entroncamentos em entranhas esquecidas, evadidas, exaustivamente esquadrinhadas. É. Excelsas etílicas experiências espocando em escabrosas escolas esotéricas, escatológico esporte, endorfina.
Estudo, esquartejo, emaranho. Escolto e envolvo. E enamoro então elementos emocionantemente esquisitos, erguendo esculturas éticas enigmáticas em ecos enfaticamente efusivos, encaixes equanimamente exatos, eretos, estonteantemente evolutivos.
E, é, esperança eis. É, eis. E espero eloqüente expurgar, em emparelhadas e enaltecidas equações estimulantes, estâncias eqüidistantes especificamente expostas em elos empíricos, exceções. Enlevos, encantamento, êxtase, espíritos enxutos em elevação. Encontros, emoção, emergência. Espera, esperma, envolvimento, ejaculação. Expressão exultante, espumante e entumecida. Estrondo, estopim, estrago. Engolir, esôfago, estômago. Equinócio. Espúrio estupro extrasensorial. Epíteto, epígrafe, epitáfio. Eterna emoção, escrever. Encontrar, encartar, emoldurar, embrulhar. Escrever.
Espera-me, enfim, então, enobrecer, exaltar, extasiar-me especial evento estímulo estimados entrantes enxertando energia este espaço. Encantado. Enormemente encantado e envaidecido. É. E esboço enervado externar elegância expressiva enaltecedora eletrizante emoção. Eletrocutante emoção. Estóico, e em essência enluarado enquanto entre estas épicas empreitadas, entregue empregarei exaustivo esforço encontrar-me em eterno ectoplasmal etnológico embate. Eterno envolvente enlace. Explosão. Estridente e explicitadora explosão. Entes e escritos. É. Entes, escritos e eu. Esta esfíngica estátua em espasmo, eu.

Gugu Keller

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Gritos por Escrito

Tem dias em que não é para escrever, mas para socar, agredir as teclas do meu computador, que diante dele eu me sento. Não para dizer ou rimar, ou compor, versar, mas para disparar, torpedear, metralhar as minhas letras contra o mundo. É. Sento-me cheio de fúria, de ódio, de energia, de indignação. O que quero é fazer barulho, soltar urros, ulos, bater, chutar, esmurrar, quebrar tudo. Escandalizar, mudar conceitos, esbravejar, destruir toda essa coisa errada e torta com sílabas sulfúricas, entrecortadas e espumadas. Expirações quentes, dentes, gotas de saliva. Sim, gotas de saliva no meu monitor. Palavras liqüefeitas em fonemas atropelados. Soltar o que está preso na prisão do pensamento. Púlpito. Solfejo de notas soturnas e sincopadas. Sons. Sons, suor e idéias. Idéias. Idéias, vácuo, pressão, redemoinhos. É, tem dias em que é assim. Escrever, outrora tudo, já não basta. Não, absolutamente não basta. Preciso fazer tremer, abalar, sabotar. Dinamitar, detonar. É. Pôr abaixo. Abaixo toda essa estrutura maldita, toda essa hipocrisia desmedida, todo esse engodo disfarçado e ciclicamente autofágico. Travestismo dogmático, pantomima tragicômica, inversão do próprio avesso. Dismorfismo disforme. É. Sim, não, escrever só não. É. Já não, não basta. O que quero é fazer das palavras pedras. Pontiagudas pedras para bodoques e vidraças. Vitrines, vitrais públicos da incoerência humana. Boca, balas, bombas, bazucas. Tiros, atropelos, atentados. Fonocardioejaculação. É, é só o que eu quero. Mais do que falar, pôr para fora. Expelir, vomitar, devolver. Escrever estranhamente nada e dar ao mundo este meu estranho tudo. É, quero. Quero, preciso, necessito. A faca sobre as teclas abrir um buraco em meu peito. Corte, coragem, covardia, contusão. E, sim, que vase sobre as letras, teclado, a coisa toda. Sangue. Que venha, venha tudo. Meu desespero contido, minha fuga contínua, meus sonhos perdidos. Minhas dores e doses, depressão disfarçada. Minha perene saudade do que eu seria e nunca fui. Agonia de desde sempre todos os dias. Desejo de sempre, todos os dias, dormir até um longínquo amanhã.
Tem dias, meus amigos, em que, sim, é assim. O escritor o escrever não leva a nada. Para escrever eis o escritor já sem palavra. Não, ela já não lhe basta. Nem o tudo nos basta, amigos, quando todo o sentido é um nada.
Tem dias, meus amigos, em que não é para escrever que eu me sento. E, sim, hoje é assim. Não, não quero escrever. Não devo, não posso, não vou. Nem sequer haveria o quê. Só quero, nu, isso sim, e quem dera eu, amigos, o saiba, apenas gritar por escrito. É. Sem palavras gritar por escrito.

Gugu Keller

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Minhas músicas - "Anticonstitucionalissimamente"

Ao contrário do que muitas vezes eu ouvi, sobretudo na minha infância, "anticonstitucionalissimamente" não é a palavra mais longa da língua portuguesa. Parece que há um termo médico que é maior. De todo modo, durante um bom tempo tive o plano de fazer uma música que em a usasse. Certo dia a coisa enfim acabou saindo e fiz dela inclusive o título. Tempos mais tarde, descobri por acaso que há uma antiga marchinha de carnaval, mas antiga mesmo, dos tempos de Lamartine, que igualmente a usa e toma como nome. Mas sem problema. A minha é um rock e, exceto pela homonimia, nada tem a ver.
ANTICONSTITUCIONALISSIMAMENTE
#
O que é que você faz quando age o presidente
Anticonstitucionalissimamente?
O que é que você faz quando vence o candidato
Hipervideoradiomultimidiocratizado?
O que é que você faz quando a fome é uma certeza?
Chese-burger-egg-bacon-maionese-calabreza!
O que é que você faz quando vê o seu passado
Sigmundfreudianamente analisado?
#
Nada dá mais lucro que a crise
Reprise às vezes é criação
O presente é permanente no país do futuro
Mas eu agora digo que não
#
O que é que você faz em auxílio ao idoso
Pulmo-cárdio-vaso-hepato-reno-canceroso?
O que é que você faz quando assiste a este engano
Anglo-saxo-franco-luso-afro-americano?
O que é que você faz pelo povo afinal
Analfabetizado em extensão ginasial?
O que é que você faz a cada 22 de abril?
Recôncavo soteropolitano do Brasil
#
Nada é mais para sempre que o nunca
E nunca nunca é solução
O presente é para sempre no país do futuro
Mas eu agora digo que não
#
O que é que você faz quando vem o seu salário
Pseudoindexadamente superavitário?
O que é que você faz para estar sempre plugado
Globomacromundiciberninternetizado?
O que é que você faz para ter seu calhambeque
LS plus, 2.0, com air-bag?
O que é que você faz quando age o presidente
Anticonstitucionalissimamente?
#
Nada é mais moderno que o agora
E a hora é de voltar à razão
O presente é o de sempre no país do futuro
Mas eu agora digo que não
#
Gugu Keller

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Minhas músicas - "Violência Não"

VIOLÊNCIA NÃO

Só porque você nunca teve família ou lar
E o teu jeito de comer sempre foi o lixo revirar
Só porque a tua mãe morreu com a faca de um cafetão
E o pai, que você nunca conheceu, queimado na prisão
Só porque você tanto apanha
Te xingam, chutam, choque dão
Só porque te abusam dez ou quinze na instituição
Nada disso justifica
A lei taí pra se cumprir
Com violência num estado de direito não adianta vir

Apenas porque te olham torto pela tua cor
E, como não tem onde tomar banho, pelo teu fedor
Nas vitrines um mundo colorido acenando tchau
E, sem escola, não raro cheirar cola foi o teu mingau
Não, isso não justifica
Nem vem com essa de ser mau
Num estado de direito vale a ordem constitucional
Passe fome mas não roube
No alto inverno fique frio
Agradeça pela sorte que te coube e ame o Brasil

Um viva expresso à ordem e ao progresso
Um viva aqui eu peço ao congresso, voz do cidadão
E, sendo a lei quem guia esta democracia
Este é um estado garantia, então não vem com violência, não

Somente porque os teus irmãos a operação matou
E você mesmo por pouco de chacinas várias escapou
E, se diz que há todo um sistema que assim faz ser
Tampouco é motivo pra esse ódio ou pra não se conter
Não, o crime não compensa
Parado aí! Pega ladrão!
Num estado de direito sobre a lei não tem nem discussão
Sorria, pois Jesus te ama!
Camisinha sempre! Drogas não!
Da fé mantenha a chama e vá com deus sempre no coração

A Cristo eu louvo em nome deste povo
Todo dia é um dia novo e o país te pede apenas paz
De céu azul anil, pra frente vai, Brasil
Na tua pátria mãe gentil violência nunca mais

Gugu Keller

sábado, 26 de setembro de 2009

Tudo Bem

Minha amiga...
Está tudo bem. Estou apenas morrendo, sabe? É. E já era esperado, entende? Afinal, como todos, vim apenas de passagem, não é mesmo? Sim. Tudo calmo, tudo certo, tudo azul. É só o fim que desde o início era previsto. É só a mesma velha falta de sentido. E já logo dos meus cinco ou seis sentidos. É só isso tudo, amiga. Isso nada. É isso só.
E, olha, fique calma, viu? Estou apenas me afogando, indo, indo... É bom, sabe? Afinal, de que me serve esse ar aí imundo? De quê? Respirar ainda isso? Não. E aqui debaixo d´água até que é bom. Ao menos, menos mau. É. Turvo.
Estou só perdendo o passo, a pressa, as pernas... O compasso... É, parei. Mas não, não se preocupe. Eu nem ia mesmo a parte alguma. É. Sim, não, nunca fui. Era tudo meio que em círculos, você sabe... Círculos. Círculos, um circo e eu palhaço. E, sim, parado agora está melhor.
Estou indo então, viu? É. É só a terra, a areia me cobrindo. Muito, muito mais aconchegante, muito mesmo! Cansei de lutar, sabe? A gente luta, luta e luta, luta e luta. E o adversário é sempre a gente mesmo. Ou seja, loucura, sempre que ganha, também perde. Mas quase sempre empata. É. E procura, e procura, e procura, e não acha nada. Ou, se acha, quando acha, nem era nada. Não, nada. É. Nem sequer valia a procura. Exaustão.
Minha guria...
É bom ainda ter a tua mão. É. Mas não, por favor, não me segure. É, eu vou, preciso mesmo ir. Mesmo parado, acho que sempre estive indo. E, agora, vendo mesmo não haver onde chegar, cheguei. O quê? Isto? Isto aqui não é nada, viu? É. É só uma faca fincada no meu peito. É, do lado esquerdo, como você vê. Mas não, não é nada mesmo. O sangue vai. O sangue foi. E já nem é tão ruim sem ter mais sangue. A vida toda eu sangrei. Ah, amiga! Eu tenho, sempre tive tanto sangue. Tanto o que sangrar. Não fica desse jeito triste assim. Não. Eu cumpri já o meu nada, sim, cumpri. Nada. O meu nada de nada do nada ao nada. O meu tudo. Meu tudo nada repleto de vazio. O meu vazio tão lotado de ausência. "Vrum"! É. Volatizou-se ao mesmo tempo em que explodiu. Implodiu. Lá vou! Vou indo! Ah, amiga! Diz-me só que fica bem. Fica, sim? Meu deus ateu me haverá de perdoar... Compreender... Proteger-me para sempre do que eu quero...!
Prenda minha...
Sim, é, tudo bem! Não dói deixar de ser se não se foi. Não. E fique calma mesmo, viu? Sim! Por favor, eu te peço, por favor! É só o vento me levando, virei pó. "Pof"! Desmanchando, desfazendo, desprendendo... Queda, queda livre, não há chão. Nunca houve, eu nunca soube, não pisei. É, não, não há o chão. Há os vãos. Os vãos por onde espio entre as grades. Por onde sempre tanto eu tudo espiei. É, espiei. Espiar, expiar, espiar, expiar, espiar, expiar... Espio-te. Expio-me. Ah, minha doce guria! É, está mesmo tudo bem. É só o fogo me queimando, você sabe... É. O meu corpo. Corpo? Logo já não serei corpo, nunca fui. Fui fel, teu fã e fui frio. É, frio. Brasa, fumaça, fuligem, frio... Sangrei tudo. Já vou, amiga. É, vou. Termina aqui o que nunca começou. Começa aqui o que jamais vai terminar. Nada. Tempo. Nada, tudo, tempo, nada. Te vejo nunca mais daqui a pouco. E, olha... Esqueça para sempre de que eu te amo. Esqueça. Para sempre nunca se lembre, tá? Não tenha saudade do que nunca houve. Não, não tenha! E está mesmo tudo bem! Estou apenas, como disse, aqui morrendo. Como todos, como tudo, como um dia também ti. Mas como é bom... Como é bom, amiga, ainda um pouco olhar dentro dos teus olhos...

Gugu Keller

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Prostitutas

Perto do meu trabalho, no centro da cidade, muitas garotas, algumas já não tão garotas, diariamente e à plena luz do dia, praticam a prostituição. Muitas delas, inclusive, com sua quase típica indumentária, freqüentam o mesmo restaurante de comida "por quilo" onde eu costumo almoçar. Hoje, prestando em algumas delas um pouco de atenção, pus-me a pensar... Por que será que as prostitutas carregam contra si esse tão pesado estigma que faz da sua profissão, ao que consta a mais antiga de todas, a pior qualidade que alguém, ou, sobretudo, a mãe de alguém, pode ter? Em outras palavras, por que será que o pior insulto que, ao menos entre nós, alguém pode receber, ou a pior situação em que alguém eventualmente pode se ver é a de ser um "filho da puta"? Afinal, que mal fazem essas pessoas, em regra extremamente sofridas, a quem quer que seja? O que fazem de tão errado para sofrerem tamanha rejeição? Não roubam, não machucam, não iludem, não enganam ninguém. Imagino, afinal, que seus clientes, e que disso ninguém vai discordar, sabem exatamente o que fazem quando as procuram, não é mesmo? Ou seja, não há na atividade nenhum tipo de golpe ou de engodo contra quem quer que seja. Muito ao contrário, é um contrato claro, cristalino, de interesse claro de ambas as partes, não acham? E, curiosamente, algumas pessoas ainda as chamam de desonestas...! Muito mais desonestas, ao menos para mim são as moças que se auto-intitulam "de família", termo que, diga-se de passagem, é, no mínimo, de nos ofender a inteligência, e que engravidam propositadamente para "fisgar" um bom partido, no chamado "golpe da barriga"! O que acham os amigos? Hum? Se querem saber, eu já conheci algumas...!
Mas o que quero mesmo dizer, pois foi nisso que pensei quando fiquei a observar hoje as tais garotas, é que eu, absolutamente, não me importaria em ser um filho da puta se a minha mãe tivesse tido que se prostituir para me sustentar, sobretudo num país como o nosso, com tanta injustiça, tanta desigualdade, tanto desemprego, tanto sub-emprego, tanta falta de perspectivas, tanta carência educacional, tantos salários de fome, tanta escravidão disfarçada, tanta hipocrisia social e institucional e por aí vai... Pelo menos, se fosse o caso, minha mãe teria arrumado uma maneira de sobreviver e de me sustentar sem roubar ninguém, sem enganar e, acima de tudo, sem mentir. E querem saber do que mais? Ela teria até, como fazem essas moças que eu hoje observava na hora do almoço, cumprido com um papel social bastante relevante, pois eu acredito, quem quiser, é claro, pode discordar, que elas, as prostitutas, constituem um importante esteio psicológico para muitas pessoas solitárias e angustiadas, sobretudo nas grandes cidades por aí afora. Muito possivelmente, chego a crer, uma grande quantidade de crimes sexuais deixam de acontecer pelo fato delas existirem. Já pensaram nisso os amigos? Sexo é necessidade, ou será que estou falando besteira? O que fariam as pessoas que não têm com quem fazer sexo se não existisse a prostituição? Não, eu não me importaria em ser um filho da puta se minha mãe tivesse tido essa como única opção! Ao contrário, eu me orgulharia de sua coragem e dignidade!
Por outro lado, eu me envergonharia, isso sim, se eu fosse filho de alguma autoridade fiscal ou policial envolvida com extorsão, ou de algum político corrupto que faz propaganda na televisão mostrando suas belas obras pela saúde pública ao mesmo tempo em que os jornais mostram o povo morrendo nas filas ou à espera de uma ambulância, ou de alguma outra autoridade qualquer que adora falar em princípios democráticos mas que é conivente com a falta de contrapartida aos tantos impostos que neste país se pega, ou com a tortura generalizada nas febens e prisões da vida, e por aí vai... Tipo de gente rara no nosso país, não é mesmo? Nossa! Digo-o com convicção, meus amigos! Como eu preferiria ser um filho da puta a ser filho de alguma figura dessas...!
E é engraçado, né? As prostitutas, que não fazem mal a ninguém, é que são a escória, o lixo humano, a degradação, o pior dos xingamentos, ao passo que essas outras pessoas a que me referi, para mim a verdadeira escória, caminham sobre tapetes vermelhos com pompa e circunstância, são não raro chamados por "excelência" e cercados por sorrisos, apertos de mão e tapinhas nas costas...! Vai entender...!
Será que eu devo escrever aqui que a maior parte das pessoas que encontram na prostituição a única maneira de sobreviver sem caírem no mundo do crime vivem essa situação justamente em conseqüência do modo de agir destes outros a que me referi, os "excelências" da vida? Acho que não, né? Diferentemente daquelas pessoas que, como citei, utilizam expressões como "de família", não quero insultar a inteligência do meu tão bem-vindo leitor dizendo algo tão óbvio...!
Resta-me então, para concluir, registrar meus sinceros parabéns a todos os que, através dos nossos cinco séculos e pouco de história, de algum modo contribuíram para construir esta nossa tão sólida moral. Esta nossa sólida, hipócrita, míope, disforme, invertida, mentirosa e absurda moral. Uma moral que condena as vítimas e felicita os malfeitores. Parabéns! Parabéns mesmo!
Mas, como não custa sonhar, quem sabe um dia, daqui a muito, mas muito tempo, um motorista de caminhão que leve uma fechada de algum "barbeiro", ao invés de pôr a cabeça para fora da janela e gritar "filho da puta", grite assim... "Ô, seu filho de um corrupto"!

Gugu Keller

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Minhas músicas - "O Sétimo Selo"

Como para muita gente, foi para mim uma experiência devastadora assistir "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman, famoso clássico em que o personagem principal joga xadrez contra a morte. Refletindo a respeito, veio-me a seguir a insuportável idéia de que contra ela, a morte, seja xadrez ou qualquer outro o jogo, a derrota é certa, inevitável. É meio como se a morte jogasse sem rei... Será, pensei então, adiá-la ao máximo uma vitória? Ou, já que, quando o jogo é longo, chegamos ao final exaustos e ainda assim sempre perdemos, justamente o contrário? Seria, talvez, derrubarmos logo o nosso rei uma forma, a única, de, de algum modo, passar-lhe a perna?
Logo após, impressionado ainda e sempre, compus esta canção a que dei o mesmo nome. Ficou muito para mim a idéia de um "bem-vindo atalho para onde eu nem queria ir", por estranho que isso soe...

O SÉTIMO SELO

A vida é um grande vazio
Um nada do nada ao nada
É vácuo, rotina e frio
Deserto de madrugada
A morte é um dia de sol
À sombra do viaduto
O sexo, isca e anzol
À lua reluz o luto

A vida é um estranho lugar
Líqüido labirinto
É selva, cilada e mar
O estômago do faminto
A morte, piscina de cal
A rima seguiu seu rumo
Lágrima, água e sal
Berço, caminho e túmulo

Por isso eu peço a deus, que eu nem creio que exista
Ateu, peço a deus só uma pista
Cadê? Qual a melhor rota de fuga?
Só peço a deus saúde e morte súbita

Um beijo é a bomba no chão
A vida a um alto custo
Um tiro no peito é perdão
E a morte, o preço justo
O amor é a beira do caos
É dor, calor e desastre
O sexo, Joelma e Andraus
Ereção e umidade

A vida é a conta da lápide
Subtração exata
O tempo é o elo de engate
E a morte, uma grande sacada
O sexo é um doce veneno
O amor, conversa fiada
Um grito responde ao silêncio
A vida é um tapa na cara

Por isso eu peço a deus, que eu nem creio que me escute
Ateu, sem ter nada que me mude
Quem sou? Aonde vou nesta carona?
Livrai-me, deus, desta vida morte agônica

GUGU KELLER

sábado, 5 de setembro de 2009

Minhas músicas - "Ao Rei Leão"

AO REI LEÃO

Pelos cavalos suados, ao sol no arado, com fome, magros
Pelas feridas e chagas em seus cascos
Pelas carroças de carga, a longa estrada, chicote e fardo
Pelo ferro em brasa que marca o gado
Pelos cães que reviram o lixo enquanto tremem de frio
Seus corpos fracos e parcos, um faro sem rastro a vagar no vazio

Perdão, rei leão
Perdão, rei leão

Pelas jaulas do circo, o fogo no círculo, picadeiro
Pelos shows de tortura nos rodeios
Pelas capas e espadas dos grandes e bravos heróis toureiros
Pelas festas de peão de boiadeiro
Pelas reses que, rumo ao abate, embarcam no trem
Como Jesus a caminho da cruz, cupim, alcatra e acém

Perdão, rei leão
Majestade, perdão

O homem é o grande mal
É vil, cruel, bestial
Barbariza, humilha, extermina por recreio
Ou, pior ainda, por dinheiro

Pelos casacos de pele, acessórios de couro, cintos, bolsas
Pelas miras a laser, alvo e mosca
Pelo tiro ao pombo, esporte de morte, caça à raposa
Armadilhas covardes e redes soltas
Pelos pássaros presos a cantar indefesos, solidão
Gorjeios de prisioneiros, golpes certeiros no meu coração

Perdão, rei leão
Majestade, perdão

GUGU KELLER

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Minhas músicas - "Rockabilly Pop Deus"

ROCKABILLY POP DEUS

Eu andava duro, quebrado, falido
Com dívidas, coisa e tal
Quando me bateu na cabeça uma idéia
Simples mas sensacional
Estou tentando abrir uma igreja de crente
Igual a gente vê na TV
É só pegar na bíblia e falar eloqüente
Que a grana já começa a chover

Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Me ensina a fazer uma oração com amor
Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Eu quero ficar rico e glória dar ao senhor

Terno e gravata ajudam na pose
E num mês dá para tirar um milhão
Diz que negócio tão bom quanto este
Só tráfico e prostituição

Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Dízimo em dia no carnê do louvor
Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Terrenos no céu ou seja lá o que for

Na minha mão o diabo está morto
Qualquer oferta e é logo "xô, satanás!"
Em nome do senhor Jesus eu ordeno
Deixa esse corpo em paz
Amém

É hora de fazer uma corrente de fé
Para a concorrência ficar logo no chão
Umbanda, espiritismo, astrologia e axé
A gente diz que é tudo coisa do cão

Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Eu quero picareta me tornar sem pudor
Me ensina, pastor, me ensina, pastor
Com carro importado e conta no exterior
Boa noite, caro amigo telespectador
Agora eu também sou pastor
Traga aqui para deus o que tiver de valor
Pois Jesus Cristo é o senhor

Gugu Keller

sábado, 22 de agosto de 2009

Minhas músicas - "Imposto"

IMPOSTO

Dinheiro não há para a saúde
As filas contornam quarteirões
Enquanto banqueiros amiúde
Recebem ajudas de milhões
Estradas repletas de buracos
Barracos na boca do lixão
Discurso voltado para os fracos
E atos, dizem os fatos, não

Mas você tem que pagar, você tem que pagar imposto
Você tem que pagar, você tem que pagar imposto
Estado de direito, um suicídio em agosto
A bala no seu peito, você tem que pagar imposto

Dinheiro não há para a cultura
Carteiras quebradas pelo chão
País do futuro porventura
Pequenos pedaços de ilusão
Em lagos perenes de Brasília
Flutuam veleiro e jet ski
A prioridade é a família
IR, IOF e IPI

Você tem que pagar, você tem que pagar imposto
Não dá para escapar, embutido em tudo há imposto
A UTI sem leito e a merenda escolar sem gosto
Projeto do prefeito e você tem que pagar imposto

Maletas, malotes e mesadas
Alíquota, cota, cotação
Pedágios, pedalinhos, pedaladas
A lebre, o lobo e o leão

Dinheiro não há para a segurança
Polícia roubando para comer
Caciques, cachimbo à pajelança
E o índio queimando até morrer
O imposto sustenta o estado
A contrapartida é para você
Se o barco há muito está furado
Afunda no jogo do poder

E você tem que pagar, você tem que pagar imposto
Você tem que pagar, pagar com o suor do rosto
E, se ninguém nunca dá jeito neste nosso tamanho desgosto
Você tem que pagar, você tem que pagar imposto

Gugu Keller