segunda-feira, 17 de março de 2014

Estado de Direito

Deixe-me ver se entendi... Então, num jogo entre o Esportivo de Bento Gonçalves contra o Veranópolis, disputado, pelo campeonato gaúcho de futebol, naquela cidade, um grupo não identificado, que, segundo a própria vítima e seus auxiliares, reunia entre dez e quinze pessoas, ofendeu o árbitro do jogo com insultos de cunho racial, que se estenderam ainda à colocação de bananas sobre o seu veículo. Pois bem. O que fez o tribunal que julgou o caso? Condenou o clube à perda de cinco mandos de campo e ao pagamento de uma multa de trinta mil reais. Aí, eu fico pensando... Então é assim que se faz num estado de direito? Se não se pode identificar o autor ou autores de um determinado delito, pune-se de um modo indiscriminado toda uma coletividade? Condena-se todos os torcedores do Esportivo de Bento Gonçalves, que, pelo tamanho da cidade, devem ser algumas dezenas de milhares? Pune-se os atletas, que decerto enfrentam inúmeras dificuldades no seu dia a dia como profissionais de um clube pequeno, sem projeção nacional, e que absolutamente nada tiveram a ver o ocorrido?!? Se não foi possível identificar os autores, digamos que sejam quinze, pune-se todos, e era, li, de 177 o número de torcedores presentes no estádio na oportunidade?!? Como pode?!? Ou será que alguém em sã consciência pode pensar que um clube seja responsável pelo que os seus torcedores gritam das arquibancadas?!? Isso me faz lembrar meus tempos de escola na época da ditadura, quando, se alguém aprontava alguma travessura, o professor dizia... "Ou o culpado se acusa, ou a classe toda vai ser responsável!" Será algo assim compatível com a nossa tão festejada constituição cidadã, que, inclusive, dispõe como cláusula pétrea, e bem vale aqui a analogia, que a pena não passará da pessoa do condenado? Como pode um tribunal, mesmo que de competência limitada ao âmbito esportivo, punir milhares pelo gesto de dez ou quinze, num claro desprezo aos mais básicos princípios do direito e do próprio bom senso?!? Não apenas me sinto estupefato com essa situação, como começo a ficar preocupado, afinal, sou torcedor também... Imaginem os leitores se acontece um homicídio numa partida do São Paulo e não se identifica o seu autor... Será que os são-paulinos iremos todos responder no júri??? Socorro!
 
Gugu Keller 

2 comentários:

  1. Adoro futebol e como torcedora (sou flamenguista) já fui a muitos jogos, e pude perceber que a discriminação é uma constante nos estádios, mulher torcedora vira "maria-chuteira", time pequeno "resto", jogador homossexual "bichinha" e jogador ou árbitro negro "macaco". Sempre digo que esse comportamento é antes de tudo uma questão de falha de caráter acompanhado de uma falta profunda de educação.
    Atos como esses são considerados como discriminação, hoje todos sabem que discriminação é crime, seja discriminação racial, sexual, religiosa e etc, mas há uma grande diferença entre saber que a Lei existe e vê-la cumprida. Sem dúvidas, todos em sã consciência, torcedores ou não, sabem que a punição foi inapropriada, absurda e equivocada, num profundo desinteresse de achar os culpados, puniu-se o Clube, os jogadores e os torcedores sérios. Existem muitas coisas que nos incomodam como brasileiros (não falo só como torcedora de futebol) e a falta de seriedade no cumprimento de nossas leis, sem dúvida é uma delas.
    Gostei do texto, bj.

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