sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Epitáfio

Eu sou feito de escrever. Vivo para escrever e escrevo para viver. Escrevo, escrevo, escrevo, escrevo, escrevo. Sou todo letras, sílabas, palavras. Idéias, versos, diálogos, conceitos. Enredos. Além, é claro, do seu contraponto, ler, é praticamente só o que me interessa. Escrevo acordado, escrevo dormindo, escrevo andando, escrevo parado. Escrevo de cabeça e depois digito. Ou me solto a digitar para ter depois na cabeça. Por escrito, experimento, arrisco, ouso. Tento. Nunca desisto. Preciso, devo, necessito. Sim, meio que vivo por escrito. Livros, peças, poesias, canções. Palavras. Ah, como são mágicas as palavras! Eu como palavras, bebo palavras, digiro-as e delas me faço. Eu sou e suo palavras. Água, sal e palavras. Lágrimas. Palavras, olhos, ouvidos, mentes. Expressão. Palavras podem tudo. Tudo se pode em palavras. Tudo se perde em palavras. E eu por elas tudo posso, tudo perco. Tudo enfim se vai de mim.
Mas façam-me, amigos, um favor... Por mais que eu viva, e por mais que enquanto vivo escreva, façam constar no meu túmulo que não escrevi o bastante, ou, ao menos, não tanto quanto gostaria...
Ah, amigos, se eu pudesse escrever para sempre...

Gugu Keller

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