Tem dias em que não é para escrever, mas para socar, agredir as teclas do meu computador, que diante dele eu me sento. Não para dizer ou rimar, ou compor, versar, mas para disparar, torpedear, metralhar as minhas letras contra o mundo. É. Sento-me cheio de fúria, de ódio, de energia, de indignação. O que quero é fazer barulho, soltar urros, ulos, bater, chutar, esmurrar, quebrar tudo. Escandalizar, mudar conceitos, esbravejar, destruir toda essa coisa errada e torta com sílabas sulfúricas, entrecortadas e espumadas. Expirações quentes, dentes, gotas de saliva. Sim, gotas de saliva no meu monitor. Palavras liqüefeitas em fonemas atropelados. Soltar o que está preso na prisão do pensamento. Púlpito. Solfejo de notas soturnas e sincopadas. Sons. Sons, suor e idéias. Idéias. Idéias, vácuo, pressão, redemoinhos. É, tem dias em que é assim. Escrever, outrora tudo, já não basta. Não, absolutamente não basta. Preciso fazer tremer, abalar, sabotar. Dinamitar, detonar. É. Pôr abaixo. Abaixo toda essa estrutura maldita, toda essa hipocrisia desmedida, todo esse engodo disfarçado e ciclicamente autofágico. Travestismo dogmático, pantomima tragicômica, inversão do próprio avesso. Dismorfismo disforme. É. Sim, não, escrever só não. É. Já não, não basta. O que quero é fazer das palavras pedras. Pontiagudas pedras para bodoques e vidraças. Vitrines, vitrais públicos da incoerência humana. Boca, balas, bombas, bazucas. Tiros, atropelos, atentados. Fonocardioejaculação. É, é só o que eu quero. Mais do que falar, pôr para fora. Expelir, vomitar, devolver. Escrever estranhamente nada e dar ao mundo este meu estranho tudo. É, quero. Quero, preciso, necessito. A faca sobre as teclas abrir um buraco em meu peito. Corte, coragem, covardia, contusão. E, sim, que vase sobre as letras, teclado, a coisa toda. Sangue. Que venha, venha tudo. Meu desespero contido, minha fuga contínua, meus sonhos perdidos. Minhas dores e doses, depressão disfarçada. Minha perene saudade do que eu seria e nunca fui. Agonia de desde sempre todos os dias. Desejo de sempre, todos os dias, dormir até um longínquo amanhã.
Tem dias, meus amigos, em que, sim, é assim. O escritor o escrever não leva a nada. Para escrever eis o escritor já sem palavra. Não, ela já não lhe basta. Nem o tudo nos basta, amigos, quando todo o sentido é um nada.
Tem dias, meus amigos, em que não é para escrever que eu me sento. E, sim, hoje é assim. Não, não quero escrever. Não devo, não posso, não vou. Nem sequer haveria o quê. Só quero, nu, isso sim, e quem dera eu, amigos, o saiba, apenas gritar por escrito. É. Sem palavras gritar por escrito.
Gugu Keller
Tem dias, meus amigos, em que, sim, é assim. O escritor o escrever não leva a nada. Para escrever eis o escritor já sem palavra. Não, ela já não lhe basta. Nem o tudo nos basta, amigos, quando todo o sentido é um nada.
Tem dias, meus amigos, em que não é para escrever que eu me sento. E, sim, hoje é assim. Não, não quero escrever. Não devo, não posso, não vou. Nem sequer haveria o quê. Só quero, nu, isso sim, e quem dera eu, amigos, o saiba, apenas gritar por escrito. É. Sem palavras gritar por escrito.
Gugu Keller
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