terça-feira, 15 de junho de 2010

Minhas Músicas - "Ricardo"

Mesmo não o sendo, durante muito tempo namorei a idéia de compor uma canção com o "eu lírico" gay. Rememorando, isso vem desde o lançamento do "Quatro Estações", do Legião Urbana, onde, com "Maurício", Renato Russo parece pela primeira vez fazê-lo de modo assumido. Algum tempo depois, tendo ouvido, na voz de Cássia Eller, "Rubens", de Mário Manga, a idéia não apenas tornou-se mais intensa, como decidi que igualmente daria ao que compusesse um título com um nome de homem. E, como talvez seja o meu estilo, queria muito que fosse algo poético e musicalmente brando, e, ao mesmo tempo, forte, direto e explícito. Em "Maurício", Renato Russo contentou-se em manifestar o "eu lírico" gay apenas através do título, já que, não fosse por ele, a letra poderia perfeitamente ser para uma mulher. Já em "Rubens", Mário Manga foi um pouco além, mas com um certo ar de escracho, característica aliás óbvia em todos os que vêm do grande "Premeditando o Breque". E eu, modestamente, queria ainda um pouco mais. Se era para ser uma composição gay, que fosse definitiva e contundentemente gay! Ou, até, romanticamente gay!
Não me lembro exatamente quando, surgiu-me uma melodia que adaptou-se com perfeição a uma batida de bossa nova e para a qual escrevi enfim uma letra em que, creio, consegui o que queria... Sim, afinal, estava feita a minha "música gay"! Leve, suave e, entretanto, sensual e explícita, quase que imprópria para menores! Faltava o título...
Conforme disse, assim como é em "Maurício" e "Rubens", eu decididamente queria que o título fosse também um nome de homem, apesar de ele (qualquer que fosse) não ser citado na letra. Hesitei entre vários. Para ser sincero, cheguei a escolher alguns de que depois desisti receoso que de pensassem que a música era para alguém que eu conhecia com aquele nome, o que não seria verdade. Até que, finalmente, uma idéia me pareceu interessante... Quando ouço por aí algumas discussões sobre o pungente tema da homossexualidade, sempre me deparo com pessoas de pensamento retrógrado que criticam os homossexuais com o vazio e absurdo argumento de que "deus fez o homem para a mulher e a mulher para o homem"... Pois bem... Dei à minha canção o nome de "Ricardo" um pouco para provocá-los, já que "Ricardo" é um anagrama da palavra "criador"!
Algumas pessoas a quem a mostrei dizem que eu não teria coragem de cantá-la em público... Mas não, hein? Dêem-me uma chance e verão!

RICARDO

Coração, sangue, mão e eu sonho
O seu tão que no chão já me ponho
Você vem sobre mim
Óleo e olhos a fim
Vem por cima, por baixo e já estamos um dentro do outro
Crasso acosso
Aço grosso
Assim

Compulsão, a cobra a toca namora
Horas vão na troca que nos devora
Vem, me pega e me faz
Me esfrega por trás
Descarrega e me entrega o licor seu amor liquefeito
Quente aleito
Jorra afeito

Vem sem medo pro nosso brinquedo e pro mundo
Vem bem fundo
Faz, meu homem, de mim o seu homem também

Conexão, encaixe em concha noturno
No seu são o engate à boca eu aprumo
Você vem devagar
Invadir, inundar
Vem roçar nossos lábios e línguas e barbas mal feitas
Baba e azeita
Vai que aceita

Vem-me fruto e floresta da fresta no fundo
Vem, meu mundo
Faz-me o bem, pode sem, faz, põe tudo, amém
Faz, meu bem
Ai, como me faz bem!

Gugu Keller

3 comentários:

  1. Gú,
    Eu sabia que vc era louco, mas não imaginava que fosse tanto..!

    Fer

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  2. Gugu, palmas pra vc!!
    A letra é muito boa!!!
    E vc é corajoso pra kct, heim?
    hehehehehe...
    Parabéns!

    Abraço!

    Toni

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  3. Concordo com os comentários acima. Gugu, desculpa a intimidade, você é doido pra C.
    Duvido que você cantaria isso numa festinha ou num bar de esquina.
    És doido, criatura!
    Estou aqui rindo... mas, ADOREI!
    A coragem e a letra.
    "Faz, meu homem, de mim o teu homem também". Danada essa!
    Um abraço!
    Suzana

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