sábado, 11 de setembro de 2010

38

Ando tonto do tanto que tento. E entretanto não tombo, tento. Tento, tento, tento. Tento sempre todo o tento o tempo todo. Tentativas que tateiam meu intento. Total em tudo eu todo tento. O tempo todo, o tento todo, com todo o que nem tenho talento. Eu tento, eu tento, eu tento. Meu tato faz contato, toca atento. Toca o vácuo, toca o vento, e não me atenta contratempo, e nem tortura, e nem tormento. Eu tento. Sempre e a cada momento. E assim será, tentar sempre, todo o tempo, todo o tanto. Tentar tonto, mesmo em pranto ou no apronto. Ao menos até que trave o tempo. Até que a treva traga a terra, o tomo, o tombamento. Até que o tempo tome o dele enfim meu tanto. Até que o tempo enfim estanque, infalível bumerangue, o meu santo e tormentoso sangue tinto. Sangue-tinta, que pinta no papel o alento pouco de que poeta eu me tentei meu tanto todo. Sim. O tanto todo tempo eu tento e pronto. E ponto. Eu tento. Tento, tentei, tentarei. Até o meu tombo tonto e ponto. Fim do tempo. Sangue tinto.

Gugu Keller

2 comentários:

  1. Intenso texto, forte, denso.
    Preciso!

    Muito bom de se ler... fluiu gostoso.

    Um abraço!

    P.S.: ainda tenho que ver a última música que me indicou. Depois, conto.

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  2. Eu, por outro lado, por vezes penso em desistir de tentar.
    Lindo, lindo, lindo.
    Beijo

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