domingo, 7 de fevereiro de 2010

MST

Sabem que há algo que creio maravilhoso no MST, e que, deixo-o claro desde já, nada tem a ver com eles estarem certos ou errados em suas reivindicações? Sim, é verdade! Não importa se eles têm ou não razão, ou, se têm, até onde ela vai... Definitivamente, para o quanto quero dizer, isso não importa! O que realmente, ao menos para mim, é instigante e apaixonante nesses tantos acontecimentos que temos visto envolver essa tão polêmica organização é o fato de eles terem percebido o quanto é poderosa a união do coletivo! Isso, meus amigos, é absolutamente fantástico! É algo em que sempre pensei, sabem? Eles já perceberam que o estado, por sua clara falta de estrutura, simplesmente não tem como os deter. Não importa que o judiciário determine reintegrações de posse com relação às áreas ocupadas ou outras coisas assim...! Os "sem-terra" são tantos e os agentes públicos tão poucos, que simplesmente não há como essas decisões serem cumpridas! No Pará, para se ter uma idéia, há várias tomadas há anos que até hoje não foram efetivadas...! Não há como! Ademais, o MST claramente já percebeu também que, mesmo que uma desocupação seja feita aqui ou acolá, ao mesmo tempo pode-se promover várias outras invasões...! É! Se o movimento invade, então, digamos, dez fazendas, no tempo em que a justiça e as forças estatais levam para desocupar uma, outras dez já estarão também invadidas! É a grande lição de Ghandi, meus amigos! Poucos milhares simplesmente não podem oprimir vários milhões, se estes não o deixarem! E é justamente por isso, amigos, que eles assustam tanto! É por isso que eles despertam, e o tempo todo o temos visto na mídia, todo esse medo mal disfarçado de indignação por parte dos poderosos! Parabéns, então, ao MST por essa sua maravilhosa conscientização! Não importa, repito, se estão certos ou errados no rigor jurídico da questão... Parabenizo-os com extremo louvor por esse grande lição que eles nos dão acerca do quanto o coletivo é poderoso quando se une em torno de uma causa!
E, quem dera, meus amigos, fôssemos todos assim... Quem dera soubéssemos todos nos unir e articular dessa maneira contra as injustiças que sofremos, contra os absurdos que nos são o tempo todo empurrados goela abaixo... Querem ver uma coisa, um exemplo banal, apenas para dar uma idéia...? O que os amigos acham, por exemplo, da situação de nossas ruas e estradas em se levando em conta o quanto pagamos ao estado a título de IPVA? Acham que há uma contrapartida minimamente justa pelo que pagamos? Parece-me muito claro que passa bem longe disso, não é verdade? Então, considerando que o que tenho em troca pelo meu suado dinheiro são buracos e mais buracos, não seria justo que eu simplesmente parasse de pagar esse imposto? Tá, tudo bem... É claro que eu sei que, se o fizesse, meu veículo entraria na ilegalidade e estaria sujeito a ser apreendido...! Mas aí eu pergunto... E se, como os "sem-terra" do MST, as pessoas se articulassem, se unissem e todos fizessem isso? O que aconteceria? Teria o estado como apreender toda a frota? Teria um mínimo de estrutura para isso? Teria sequer onde pôr tanto carro? Ou seja, eu sozinho não posso nada, mas, ah, se estivéssemos todos juntos... Entendem os amigos o quanto quero dizer?
Com relação às greves é a mesma coisa... Sempre que há um movimento grevista por aí, ouvimos aquele velho refrão... "O povo unido jamais será vencido!" Mas o povo nunca se une pra valer! Salvo pouquíssimas exceções, as greves são sempre mal feitas, desunidas, medrosas... Vou dar como exemplo a minha própria categoria, os servidores do judiciário aqui de São Paulo... Apesar das inúmeras injustiças que temos sofrido nos últimos anos, sobretudo no que tange a um enorme arrocho salarial, jamais conseguimos nos organizar num movimento minimamente decente. As duas greves que testemunhei nesses dez anos em que estou lá foram absolutamente capengas, com boa parte dos funcionários, não sem razão, deixando de participar por medo de represálias e por aí vai... Ora... Numa greve de verdade, de um povo verdadeiramente unido para jamais ser vencido, todos participam, de modo que as portas do local de trabalho nem sequer são abertas até que os seus direitos - que ironia! - sejam respeitados! E, se uma única pessoa sofrer algum tipo de retaliação, por mais sutil que seja, a greve não acaba! Ou, se já tiver acabado, volta à carga! Isso sim seria uma greve de verdade, uma greve séria, consciente! Nós somos muitos, amigos, e nossos opressores são muito poucos! Quem dera soubéssemos nos articular... Quem dera fizéssemos como o MST... Quem dera tivéssemos aprendido a lição simples mas revolucionária daquele pequeno indiano e tivéssemos um mínimo de consciência acerca do nosso poder...
Mas não. Longe disso. Continuamos, isso sim, na nossa alienação, na nossa inércia, no nosso conformismo covarde que certamente é a nossa grande tragédia...!

Gugu Keller

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