sábado, 27 de março de 2010

Ainda Era Cedo

Nunca vi ninguém falar sobre isso mas sempre pensei que uma grande ironia sobre a morte tão triste e prematura do grande Renato Russo foi o fato de ela ter ocorrido no ano de 1996, ou seja, exatamente no momento em que surgia o conceito de coquetel para revolucionar o tratamento contra a aids. De fato, foi justamente a partir dali que ela deixou de ser uma doença mortal e passou a ser controlável, ao menos para quem tivesse acesso àquela nova forma de posologia medicamentosa. Então, selando uma vida que tanto misturou o mágico com o trágico, foi meio como se, qual um último mártir, ele tivesse partido justamente no momento que marcava o limiar daqueles terríveis tempos em que um diagnóstico de soropositividade significava invariavelmente uma sentença de morte. Ou seja, se tivesse resistido apenas um pouco mais, provavelmente estaria entre nós até hoje, quando faria 50 anos de idade...!
Queria ter podido estar ao seu lado nos seus últimos momentos... Diria a ele que agüentasse só mais um pouco... Diria a ele que ainda era cedo... Sim... Ainda era cedo, cedo, cedo, cedo, cedo...!

Gugu Keller

Nardoni(s) X Pimenta Neves

Já ao ler a sentença de Alexandre Nardoni e de Anna Carolina Jatobá, o juiz de pronto determinou a continuidade da prisão provisória de ambos, negando-lhes, assim, de antemão, o direito de recorrer em liberdade. Justificou tal atitude, todos ouvimos, com a necessidade de se preservar a credibilidade do poder judiciário. Já no caso do jornalista Pimenta Neves, igualmente um crime extremamente grave e acompanhado de perto pela imprensa, não houve essa mesma preocupação com tal preservação, e todos o vimos ser do mesmo modo condenado pelo júri e, entretanto, sair tranqüilamente pela porta da frente do fórum, lado a lado com a família da vítima, tendo assegurado o seu direito de apelar livre, assim permanecendo até hoje...!

Estranho, não?

Gugu Keller

sexta-feira, 26 de março de 2010

Veredicto

Pois é... Acaba de sair o veredicto do "caso Isabella" e, como certamente tanta gente vai escrever tanta coisa em tantos lugares a respeito, eu, que muitas vezes, sei, sou prolixo para os padrões de um blog, queria escrever pouco...
Então farei apenas uma pergunta para que os amigos reflitam...
O que é mais triste? A morte da criança como se deu? A maneira como o casal, num momento de óbvio desequilíbrio, cometeu uma insanidade e estragou a sua vida, condenando-se a um sofrimento longo e atroz? Ou será que o mais triste mesmo é ver aquele povo diante daquele fórum gritando, xingando, cantando, ameaçando com palavras de ordem, colando cartazes, e, depois da confirmação da condenação, pulando, festejando, soltando rojões, como que numa conquista de campeonato? Gente vinda de lugares a milhares de quilômetros apenas para ficar ali, como se tivessem alguma coisa a ver com toda essa tragédia, como se fosse esse crime, esse tipo de crime, afinal o responsável pela nossa tragédia coletiva?!? Como se a grande desgraça do nosso país afinal não fosse a nossa escancarada podridão institucional e todo o flagrante engodo plutocrático que dela continuamente se alimenta e agiganta, mas sim crimes passionais isolados praticados por pessoas menos resistentes a situações de stress!?! O juiz lendo a sentença e aquela gente ali, acompanhando num telão, como que num jogo de copa do mundo, comemorando aquilo como se agora estivesse de alma lavada... Não duvido que fossem capazes de queimar numa fogueira os dois infelizes se pudessem... E também não duvido que entrementes comessem pipoca...! Muito mais divertido, né? A uma semana da páscoa, desta vez não se malhou apenas um boneco de Judas, mas dois deles! E vivos! É, alma lavada! E depois de amanhã ainda tem Corínthians X São Paulo! Só falta o Ronaldo Fenômeno fazer gols!!! Será que sobraram rojões...?
Fica então a minha modesta pergunta...
O que é mais triste, meus amigos, o que é mais deprimente, mais preocupante, mais inquietante, mais chocante e mais perturbardor? A morte prematura e violenta, a nefasta conseqüência de um momento de descontrole na vida de pessoas que em sua habitualidade nunca foram criminosas, ou todo esse show de ignorânica, de alienação, de hipocrisia e de histeria coletiva, essa total falta de discernimento, essa completa inaptidão para se compreender minimamente a realidade à volta, todo esse espírito tão claramente vingativo e tão mal disfarçado sob o eufemismo da palavra "justiça", a tão maltratada palavra "justiça", todo esse ódio mal direcionado, todo esse circo em torno da dor alheia, esse deprimente espetáculo neo-medieval de expiação em praça pública?

Já falei aqui sobre um dos meus livros favoritos, "1984", de George Orwell... Este episódio fez-me lembrar os fantásticos "dois minutos de ódio contra Goldstein"...! Sim, é claramente a mesmíssima situação! Quem já leu sabe do que estou falando... A quem ainda não, recomendo a leitura!

Finalmente, para quem queria escrever pouco já escrevi demais, situações como a desse júri fazem-me pensar também na para mim tão incompreendida canção que Humberto Gessinger tanto já cantou, "O Papa é Pop"... É como ele diz, "o pop não poupa ninguém"!

Gugu Keller

quarta-feira, 24 de março de 2010

Viagra no Camelô

Outro dia vi uma reportagem na tv que mostrou uma grande apreensão feita por policiais federais de uma gigantesca quantidade de remédios falsificados, comprimidos a imitar os de Viagra na maioria. Conforme apurado, tal material é comumente vendido nos chamados camelódromos, com grande procura, ao preço de três reais a unidade. Fiquei pensando... É claro que a inacessibilidade não apenas a este mas a todo tipo de medicamento em função do baixo poder aquisitivo médio da nossa população diante dos preços que neles se pratica é algo extremamente perverso. Sabe-se inclusive que vidas se perdem por causa disso. Contudo não posso deixar de questionar... O que será mais assustador e deprimente? Esta nossa realidade tão vergonhosamente excludente em si ou concebermos que inúmeras pessoas no nosso país chegam a um tal nível de desinformação e/ou alienação, a uma tal falta de um mínimo de discernimento, que chegam ao ponto de comprar esse tipo de produto numa banca de marreteiro, por 10% do seu custo numa farmácia, sem se dar conta de que nisso há algo de errado...? Impressionante, não? Tristemente impressionante! Bem... Ao menos, já que lamentavelmente a ignorância é tanta, talvez esse Viagra falso, seja lá o que contenha, caso o problema de quem o ingira tenha um cunho psicológico, o que nessa área costuma ser comum, funcione bem como um placebo, não é mesmo? O tão famoso placebo...!

Gugu Keller

terça-feira, 23 de março de 2010

Ouça-me!

Meias palavras...
... Duplo Sentido
Sexto sentido...
... Sons do silêncio
Toda a verdade...
... Tantas mentiras
Leve suspiro...
... Grito abafado

Gugu Keller

segunda-feira, 22 de março de 2010

Tempos Verbais

Já terão os amigos reparado na seguinte coisa...

Você entra numa padaria e pede um bombom Ouro Branco. Aí, no caixa, diz o sujeito...
- Ouro Branco hoje eu não vou ter! Pode ser Sonho de Valsa?
ou...
Você vê um tênis numa vitrine e pergunta ao vendedor se tem do teu número naquela cor de que gostou. Em resposta, ouve...
- Nessa cor infelizmente eu não vou ter! Vou ter o azul escuro, pode ser?
ou, ainda...
Você entra numa loja de Cds à procura de "O Papa é Pop", dos Engenheiros do Hawaii. Mas diz-lhe a vendedora...
- "O Papa é Pop" no momento eu não vou ter! Não quer levar uma coletânea deles?

Pergunta do chato aqui de plantão...

Por que diabos o tempo todo esse "eu não vou ter", no futuro??? Acho que o que interessa é se tem aquilo no presente, não é? Se o vendedor, balconista ou o que seja "vai ter" ou "não vai ter" no futuro pouco interssa, ora bolas! Vai entender o sentido de se dizer esse tipo de coisa...! E o pior de tudo é que tem gente que ainda acha que é chiquérrimo falar assim...! Ah! E ainda tem um requinte de ignorância total da língua, que é o "hoje eu não vou ter", ou o "no momento eu não vou ter", ou seja, além de falar indevidamente no futuro, o(a) infeliz ainda usa um advérbio de tempo no presente!!! É mole? É meio como aquela coisa de fazer a caca e ainda pisar em cima para espalhar...!

Aliás, já que estou me referindo a tempos verbais, aproveito o ensejo para mencionar uma outra coisa em que sempre pensei, não sei se os amigos já...

Por que será que os jornais e afins, sobretudo em suas manchetes, amiúde usam o verbo no presente para se referirem a fatos passados?

Então, por exemplo...

"Fulano de tal morre em São Paulo aos 80 anos."
ou...
"Time X vence e continua na briga."
ou...
"Governo libera reajuste no preço do álcool."

Pois bem... Digam-me se estou errado... Quando sai a notícia, o sujeito já não morreu? O time X já não venceu? O governo já não liberou a droga do aumento? Então por que cargas d´água os verbos no presente e não no passado? Alguém poderia me dizer?

Mistério, não é mesmo?

Gugu Keller

sábado, 20 de março de 2010

Completude

É muito comum ouvirmos ou lermos que determinada coisa está ou é mais completa do que outra... Diz o professor que a resposta deste aluno está mais completa do que a daquele, ou, para certo comentarista esportivo, tal atacante é mais completo que o seu reserva, ou, ainda, diz o jurista que determinada petição fica assim mais completa do que se redigida daquela outra forma... Convictamente rejeito a expressão. Ora, se uma coisa é completa, não pode lhe faltar nada! Se lhe falta, se carece de algo, então não é completa! Assim, não pode haver graus de completude. Existe apenas o que é completo e o que não é. O que pode, é claro, é haver graus de incompletude. Aí, sim! Uma coisa é completa, outra incompleta por que lhe falta isso e uma outra é ainda mais incompleta porque além disso lhe falta aquilo! Tudo bem, perfeito! Agora, uma mais completa do que outra? Impossível! O completo é completo! É um conceito absoluto! Se lhe falta algo, não é completo! E, se completo é, não o pode ser menos do que qualquer outra coisa que igualmente completa seja!

Gugu Keller

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pro Dia Nascer Feliz

No post "Lá em Casa tem um Poço...", de alguns dias atrás, referi-me à magia de descobrir o verdadeiro sentido de um verso muitos anos depois de o conhecer... Pois bem... Os amigos acreditam que aconteceu de novo?
Lembro-me perfeitamente... Foi entre 83 e 84, quando eu tinha de 18 para 19 anos, que nacionalmente despontou o trabalho do Barão Vermelho, com a maravilhosa "Pro Dia Nascer Feliz"...! E é claro que, sobretudo como fã de Cazuza que logo me tornei, já ouvi essa música incontáveis vezes, chegando até a fazer cover dela numa banda que tive...
Contudo foi apenas na semana passada, escutando uma coletânea que tenho, 27 anos depois, que me toquei de uma coisa muito louca... Já repararam, meus amigos, que o famoso verso "procurando vaga, uma hora aqui, outra ali, no vai e vem dos teus quadris" é uma clara alusão a sexo anal? Hum? Não é louco e surpreendente? Uau! Esse era o nosso grande Cazuza!!! Quanta saudade...!

Gugu Keller

quarta-feira, 17 de março de 2010

Éramos Seis

Nossa! Aqui vai mais uma do chato de plantão... É que há certas coisas, meus amigos, que as pessoas ouvem e passam a repetir, que constituem erros gramaticais tão absurdos, mas tão absurdos, que, no sentido exato da palavra "absurdo", chegam a nos fazer doer os ouvidos! E o pior é que, em muitos casos, como neste de que aqui agora vou falar, a coisa aparenta se proliferar de uma maneira assustadora...! De fato, 90% das pessoas, observo, inacreditavelmente o parecem cometer...
Refiro-me à situação em que alguém, quando quer dizer quantas pessoas compõem sua família, sua classe, seu grupo de trabalho ou o que seja, inexplicavelmente coloca a palavra "em" antes do número... "Em casa somos 'em' cinco!" "No escritório somos 'em' quinze!" "Éramos 'em' mais de quarenta na festa!" Argh...! Que sentido tem isso??? Você, que me lê agora, você é um ou é "em" um??? É uma pessoa ou é "em" uma pessoa? E você e eu juntos somos dois ou somos "em" dois??? Hein? Nossa! É uma coisa impressionante! Ouvimos esse "em" colocado nesse lugar tão indevido o tempo todo...! Será que eu sou mesmo um chato, como não raro desconfio? É que fico pensando e não consigo nem sequer imaginar algo que possa de algum modo justificar esse "em"... Se minha irmã e eu fôssemos "em" dois, então eu sozinho seria "em" um, ou seja, talvez estivesse de algum modo dentro de mim mesmo... Será que é isso?!?
Então, meus queridos amigos que aqui vêm, se algum de vocês utiliza esse "em" tão indevido, perdoe-me pela sinceridade, mas trata-se, na minha modesta opinião, de um erro de português simplesmente medonho! Pare com isso já!
Basta lembrar do famoso romance de Maria José Dupré, que inclusive virou novela nos anos 90, o "Éramos Seis"! Ou será que alguém aí já leu ou assistiu "Éramos 'em' Seis"?

Gugu Keller

terça-feira, 16 de março de 2010

Minhas Músicas - "Espermatozóide Blues"

Sempre acreditei no desafio de escrever coisas que fossem ao mesmo tempo fortes e poéticas, e, dentro dessa linha, fazer uma música falando sobre o orgasmo, o momento do gozo enfim, foi algo que, confesso, persegui por algum tempo. Na verdade, muito provavelmente desde o momento em que, muitos anos após começar a ouvir Beatles (comecei bastante cedo), dei-me conta do enorme duplo sentido que há em "Come Together". Sim, percebi maravilhado que é exatamente sobre isso que, de um modo sutil, fala esta que certamente é uma das grandes obras dos "Fab Four"! Aliás, sugiro a quem nunca o percebeu ou a quem eventualmente discorde que a ouça com fones de ouvido e observe os sussurros que John Lennon faz durante o solo de guitarra, como se estivesse fazendo sexo, e os gemidos típicos de quem está gozando na parte final...! Fantástico! Assim, creio que a partir de então, humildemente comecei a sonhar com também tentar algo para falar disso...
Fascinou-me, em somatória, ter com a brilhante percepção de Lacan de que o orgasmo, é, afinal, o único momento da vida em que nossa ansiedade baixa a zero! Uau! Que sacada perfeita! Sim, definitivamente eu tinha que compor algo a respeito...! Até que, um dia, afinal, caminhando pela rua no final da tarde, veio-me a idéia musical em que consegui encaixar o que eu queria dizer... E, modestamente, creio ter chegado ao que eu buscava... É, "Espermatozóide Blues" ficou forte e poética! Talvez, para algumas mentes mais embebidas na velha e trágica caretice, mais forte do que poética... Mas, os amigos sabem, nunca fui de me importar muito com isso...

ESPERMATOZÓIDE BLUES

O gozo
É um soro viscoso
Um rio caudaloso
Um banho de amor
Esperma
Que verte na perna
Inunda a caverna
E molha a flor

Eu quero
Um gozo sincero
Dois corpos a zero
Saliva e suor
Um gozo
De um branco pastoso
Um choro gostoso
Momento maior

Eu não sei como dizer o quanto eu torço, me contorço e gosto
Mas preciso dizer que é por você que eu gozo

O sêmen
As bocas que gemem
Sorrisos que tremem
Mucosas ao léu
O gozo
O sumo aquoso
Um suco leitoso
Um ácido mel

Eu vejo
A vir o desejo
A bomba e o beijo
A grande explosão
Ó, porra
Espalhe-se, escorra
Sodoma e Gomorra
Em lava e vulcão

Eu não sei como dizer o quanto eu babo, me acabo e gosto
Mas preciso dizer que é por você que eu gozo

O coito
Hormônio afoito
Dois corpos num oito
Em cópula enfim
Teus peitos
Teus lábios perfeitos
Teus doces trejeitos
Debaixo de mim

O gozo
Um riso nervoso
Um grito guloso
De chuva e trovão
Orgasmo
Etéreo marasmo
Elétrico espasmo
No meu coração

Eu não sei como dizer o quanto eu crio, me esvazio e gosto
Mas preciso dizer que é por você que eu gozo

Gugu Keller

sexta-feira, 12 de março de 2010

Crimes de Racismo e Proporcionalidade

SITUAÇÃO 1

Pedro dos Santos tem três filhos com três diferentes mulheres. Não reconheceu nenhum deles e nem ajuda nehuma delas em nada. "Profissionalmente", seu meio de vida é a cafetinagem, sendo que paga semanalmente uma considerável quantia para policiais corruptos que dão cobertura a seus aliciamentos e à sua exploração da prostituição alheia. Ademais, usuário de drogas e beberrão inveterado, já foi flagrado dirigindo bêbado em várias oportunidades, tendo sua carta de motorista atualmente apreendida por uma enormidade de infrações cometidas.
Em noite recente, Pedro, dirigindo sem carta e comprovadamente bastante alcoolizado, subiu numa calçada e atropelou uma criança de nove anos que por ela andava, condenando-a, segundo a medicina, pela gravidade de ferimentos que lhe atingiram a coluna cervical, a uma cadeira de rodas pelo resto de seus dias.
Mesmo tendo sido preso em flagrante pelo acontecido, Pedro, por tratar-se de um crime culposo, foi liberado após pagar fiança, num valor bastante módico, que, diga-se de passagem, nem sequer chegou a lhe pesar no bolso. Ademais, pelo mesmo motivo, dificilmente chegará a ser preso por um único dia e, graças à atuação do competente advogado que contratou, muito hábil em questões referentes a trâmites processuais penais, é muito possível, de novo por ter sido culposo, que veja seu crime estar prescrito antes de findo o processo.

SITUAÇÃO 2

Paulo de Souza é médico de excelente reputação. Extremamente competente, destaca-se na profissão não apenas por sua plena dedicação a ela como também pelo notório caráter humanitário de sua atuação. Segundo os muitos amigos, sempre foi um homem mais preocupado em salvar vidas do que em ganhar dinheiro. Ademais, é um pai extremamente amoroso e um marido exemplar, alguém enfim que se pode classificar como de reputação ilibada e retidão incontestável. Religioso, gentil e generoso, chega a pagar os estudos do filho de sua empregada doméstica, uma mulher negra que trabalha com sua família desde que ele era criança, que praticamente o viu nascer.
Numa tarde recente, Paulo envolveu-se numa discussão de trânsito. Um sujeito de cor negra que dirigia um carro em péssimo estado deu-lhe uma bela de uma fechada, fazendo com que Paulo instintivamente levasse a mão demoradamente à buzina. Apesar de claramente errado, o homem desceu do carro velho e pôs-se a verbalmente agredir o médico, que, nervoso, no calor do acontecimento, acabou por dirigir-se ao tal, que já literalmente o ameaçava, como "negro ignorante".
Ocorre que, justamente no momento em que Paulo proferiu as duas infelizes palavras, passava pelo local uma viatura de polícia com dois soldados, que com clareza o ouviram as dizer.
Paulo foi preso em flagrante por crime de racismo, praticado através de injúria com conteúdo racista, e, numa delegacia, preso continua. Não pode pagar fiança porque a constituição prevê tal conduta como inafiançável, e tampouco jamais poderá se benficiar da prescrição, mesmo que o processo se arraste por décadas, já que, também por força constitucional, trata-se de um crime imprescritível.

Gugu Keller

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cuba

As infelissíssimas declarações do presidente Lula relativas à situação dos prisioneiros políticos em Cuba que recentemente entraram em greve de fome trouxeram à baila mais uma vez entre nós a questão da ferocidade ditatorial que lá existe. Costumo dizer quando se discute a ilha que, apesar de toda a complexidade situacional que lá se vê devido a uma infinidade de componentes históricos e políticos, tudo pode ser resumido numa única velha pergunta... Os fins, por melhores que sejam, justificam quaisquer meios? Isso, meus amigos, para mim resume Cuba! Quem responde que sim, aplaude e apóia Fidel! Quem que não, reprova-o e o rejeita! Concordam comigo os amigos que o ponto é esse?
E é claro que não vou deixar de dar aqui minha opinião... Apesar de eles inquestionavelmente terem feito coisas maravilhosas e de, sobretudo, sempre terem primado por uma coragem simplesmente invejável, eu, por princípio, penso que não! Por mais elevados que sejam os fins, não, para mim eles definitivamente não justificam quaisquer meios!

Gugu Keller

terça-feira, 9 de março de 2010

Anúncios de Acompanhantes

Num post do último dia 3 de fevereiro, devem se lembrar os amigos, referi-me aqui à fantástica criatividade que se vê nos títulos de filmes pornô por aí afora... Pois bem... Não menos interessantes são os anúncios de acompanhantes que tanto há nos jornais e que com adesivos infestam os telefones públicos, sobretudo no centro da cidade...! Aí vão alguns que li recentemente...

Cassandra, coroa safada, anal, oral, bizarro/acessórios, sem frescura, aceita cartão. 8364-0475

Shirley iniciante para executivos. Completa com espartilhos. 7395-7393

Portuguesa peluda. Metrô Liberdade. Cheque 10 dias. G2X. 7486-0047

Jéssica - Boneca bem dotada, ativa e passiva, oral sem frescura, beijo na boca. 8573-3099

Mãe e filha. R$40,00, 30 min. 75609-7744

Geovanka ativa, c/ cama giratória, metrô luz. G2X. 9677-4208

Paulo, 19 cm. Me liga! Serei teu macho! 8872-5448

Kelly, 18 anos, lindinha e greluda. Engulo tudo até a última gota. Anal cadelinha. Dinheiro/cheque/cartão. 6757-3301

Tarsila, boneca linda, recém-chegada da Itália para homens e casais, sigilo absoluto. 7587-5100

Chupo! 7567-7374

Miuky, massagem tailandesa / beijo grego. G2X. 7408-9990

Karen, completa, liberal, semi-virgem. 6228-7582
&
Bianca, 18 cm, carinhosa, sem pressa. Venha conhecer meu banho de língua! Cheque 30 dias/Cartão/Local próprio. 3885-5090

Observação... O "G2X", bastante freqüente nessas verdadeiras pérolas da nossa cultura urbana contemporânea, significa, conforme apurei, "goze duas vezes"!
É interessante ou não é?

Gugu Keller

domingo, 7 de março de 2010

Ampulheta

Às vezes os dias são tão iguais uns aos outros que chego a cogitar que afinal não são dias iguais, mas apenas um único dia que, por alguma razão sobrenatural além da minha compreensão, estranhamente fica a se repetir...!

Gugu Keller

Metrô

Os amigos que aqui vêm já devem ter reparado que sou uma espécie de chato de plantão, sobretudo no que diz respeito à comunicação, às palavras, à língua portuguesa enfim... De fato, estou sempre a criticar as coisas que ouço ou leio em que não vejo sentido... No metrô aqui em São Paulo, por exemplo, de que faço uso diariamente para ir e voltar de meu trabalho, há algo que não me entra na cabeça... Seguinte... Em vários avisos lemos que a saída dos passageiros dos trens deve preceder a entrada dos que vão embarcar, ok? Até aí, perfeito! Mas acontece que, ao mesmo tempo, em outros tantos avisos, está que devemos embarcar pelo lado direito das portas, deixando o esquerdo para quem desembarca...!?! O que me dizem disto? Será que estou ficando louco ou essa simultaneidade entre as duas coisas faz, como me parece, com que ambas percam o seu sentido?

Gugu Keller

Motivo de Saúde...?

Outra expressão sem sentido que comumente se ouve, lá no meu trabalho, por exemplo, com muita freqüência, é que a pessoa precisou faltar por "motivo de saúde"...! Sempre fico pensando comigo... Não terá sido motivo de doença?!? Na verdade parece ser uma outra versão daquele erro tão comum que é dizer "risco de vida" quando o correto obviamente é "risco de morte"! E até o grande Cazuza, em "Ideologia", cometeu esse erro...!!! Se bem que ele podia, não é mesmo?

Gugu Keller

sábado, 6 de março de 2010

Pequena Bela História...

Esta é uma história, pequena e simples mas muito bela, cuja autoria desconheço, que ouvi de minha professora de literatura quando estava no colégio, no ano de 1983. Por incrível que pareça, jamais dela me esqueci. Decerto tocou-me porque desde muito cedo eu já era meio metido a poeta...

"Um homem rico, proprietário de um extenso pomar onde se destacavam frondosas macieiras, apaixonara-se profundamente por uma jovem índia e estava decidido a escrever-lhe um poema. Contudo, por mais que pensasse a respeito, não conseguia encontrar uma rima para a palavra "índia". Certa tarde então, foi ao seu pomar, colheu a mais bela das maçãs que encontrou e dirigiu-se à casa do poeta que havia na na cidade, com quem lá deu à janela. Disse então o rico apaixonado ao poeta...
- Poeta, se me deres uma rima para a palavra "índia", dou-lhe de presente esta suculenta maçã!
O poeta sorriu e, estendendo a mão para a fruta, disse apenas...
- Vinde-a!"

Bonito, não?

Gugu Keller

quinta-feira, 4 de março de 2010

Terceira Idade

Por que será que as pessoas quando ficam velhas, principalmente os homens, adoram ficar se vangloriando de que conseguem pressentir quando vai chover? Se eu chegar lá, espero não ficar assim...

Gugu Keller

quarta-feira, 3 de março de 2010

Homem-hímen

Quando perdi o que nunca tive
Eis a vida num declive
Eis à morte a razão
Quando tornei-me o que sempre fora
Foi-se a mente impostora
Eis enfim só coração

Gugu Keller

terça-feira, 2 de março de 2010

Lá em Casa tem um Poço...

É sempre uma experiência mágica revisitar a obra de grandes poetas e é interessante como no que tange à sua compreensão tudo parece ter seu devido tempo para cada um de nós...
Exemplificando, apenas com a morte de Renato Russo em 1996 e a subseqüente divulgação de que ele tinha aids e o sabia desde 1989, foi que percebi que, na canção "Feedback Song For a Dying Friend", do álbum "As Quatro Estações", justamente daquele ano, 89, ele se dirigia a Cazuza.
Pois bem... É desse mesmo álbum um verso que meio que "me incomodou" por mais de vinte anos, até que, no último fim de semana, como que num estalo, eu finalmente o compreendi...
Trata-se de um verso, na verdade o último verso, da canção "Há Tempos", a que abre o álbum... Sendo extremamente conhecida, um dos hinos da Legião Urbana, alguns trechos dela soam qual verdadeiras epígrafes para todos nós, como "Parece cocaína mas é só tristeza", ou "Há tempos são os jovens que adoecem", ou, ainda, e, talvez, sobretudo, "Disciplina é liberdade". Contudo ela termina com um verso estranho, aparentemente deslocado do restante da letra, cuja compreensão me fugiu durante esses mais de vinte anos, até que, como eu disse, de repente, e até meio de surpresa, no último fim de semana, afinal me surgiu...
Diz o verso... "E ela disse... - Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa!"
Sim, por mais de vinte anos matutei a respeito. Fundamentalmente, não conseguia entender o nexo da palavra "mas", a idéia do adversativo, indicando ser um problema que a água seja limpa, o que para mim não parecia fazer nenhum sentido. Por outro lado, sem saber por quê, eu não conseguia deixar o questionamento de lado. De algum modo minha intuição me dizia que havia um significado relevante ali. Alguma coisa intencional e caprichosamente oculta.
Pois bem... Vinte e um anos depois, enfim compreendi... Refletindo toda a angústia que ele devia estar sentindo naquele momento tão difícil, como aliás está bem evidente no resto da canção, e também em todo o álbum, e mais ainda nos que o seguiriam, esse verso contém uma idéia suicida... Sim, isso mesmo! Agora me parece claro! É uma especulação sobre como, de que maneira se suicidar...! O poço, que já traz em si a gigantesca imagem simbólica de ter no seu fundo o ápice do desespero, o máximo do sofrimento, da dor, da derrota, seria, também, não raro se vê acontecer, um bom local/meio para alguém dar cabo da própria vida...! Mas este de que se fala não, conclui a canção! Não! Este não serve! Por que? Porque sua água é limpa demais! Sua água não é turva o bastante para que se o considere apropriado para um suicídio! Interessante, não?
E reforça-me a idéia, amigos, uma outra canção, do ábum seguinte, "V", também bastante conhecida, "Vento no Litoral"... Aqui, desta vez quase que de modo escancarado, ele novamente fala de suicídio, e novamente especula cometê-lo através da água, agora não num poço mas no mar... Possivelmente lhe fosse uma espécie de idéia recorrente, sobretudo diante do decerto incomensurável pavor daquele diagnóstico, ainda muito pior naqueles dias do que hoje...

Onde quer que você esteja, Renato Russo, e como você mesmo dizia, "força sempre"! Entre nós tua maravilhosa obra jamais te deixará morrer!

É claro que outras pessoas podem ter interpretações diversas sobre o último verso de "Há Tempos"... De antemão já digo que respeito-as todas e até gostaria muito de as conhecer...!

Gugu Keller

segunda-feira, 1 de março de 2010

Imperfeitos

Diz-se desde sempre, em regra como desculpa ou consolo, que ninguém é perfeito... Mas não será, fico a pensar, que, justamente ao contrário, na verdade o somos todos, cada qual com as suas características?

Gugu Keller