sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Minhas músicas - "Iceberg"

Sendo, como já disse aqui, um aficionado por imagens paradoxais, fiz, com esta canção, uma espécie de colagem delas. Começando com "ao menos por hoje eu te amo para sempre", uma compreensão tardia que, acredito, tive acerca da intensidade de nossas paixões de adolescência, com que, ao mesmo tempo, procurei referir-me, ainda que indiretamente, às tais "mentiras sinceras" de Cazuza, tentei propor a tese, não menos paradoxal, de que uma mesma coisa pode afinal ser verdadeira e mentirosa conforme o referencial. Costurei então a idéia a uma imagem com que demais me identifico ao analisar a essência humana, o iceberg. Sim, muito por timidez mas muito mais por conta de nossa viciosa e doentia hipocrisia, eis nos icebergs exatamente o que somos. Eis neles como se mostram os nossos sentimentos. Eis nos icebergs. Eis-nos icebergs. Ou será que não?

ICEBERG

Ao menos por hoje eu te amo para sempre
E sempre o dia será o de hoje
Lá longe eu me sinto aqui ao teu lado
E peço-te tudo ficando calado
Eu te amo e isso é apenas a ponta de um iceberg
Que derrete perdido nos mares do sul
Quase nunca eu às vezes jamais tentaria ficar de pé
Flutuando na água azul

Às vezes a dúvida é uma certeza
E a exceção, a única regra
Decerto eu para sempre te amo agora
E sempre o agora ao tempo se entrega
Eu te amo e isso é apenas vapor de um caldeirão
Que vai nuvem virar para mais tarde chover
Nestas minhas palavras só a barbatana do tubarão
A maior parte eu não sei dizer

Paradoxo do tempo para amar
Pára-raios à luz do sol
A camada de ozônio e a calota polar
Corações que disparam
Uma bomba-relógio em nós
E o momento que vai ficar

O amanhã vem chegando e torna-se hoje
E logo, já ontem, se vai no passado
Se ao norte eis a morte o mote eterno
Eu durmo meu sono e sonho acordado
Eu te amo e isso é apenas a ponta de um iceberg
Que derrete nas ondas do teu calor
Se a canção cá acaba, eu sigo a em silêncio cantar com fé
O por ti meu tão grande amor

Gugu Keller

2 comentários: